tudo muda para que tudo fique igual
Imagino que esta época de pandemia seja terreno fértil para os sociólogos, antropólogos, filósofos e estudiosos da humanidade em geral. O paradigma mudou e nós estamos a mudar todos os dias também. A globalização, as redes sociais, a cultura e a nossa mentalidade fazem com que esta pandemia seja vivida de forma diferente de todas as outras.
Confesso-vos que achei que o mundo ia mudar. Que tudo ia ter que mudar. Fiquei feliz e orgulhosa quando vi que valorizámos claramente a vida humana em detrimento da economia. Afinal, as vidas mais frágeis conseguiram fazer-nos fechar o país, e cada país fechar-se sobre si mesmo de forma a minimizar o número de mortes.
As ruas ficaram desertas. A economia passou a cingir-se ao essencial. O supérfluo perdeu lugar e ficou para depois. as empresas foram obrigadas a adaptar-se e o teletrabalho foi posto em prática de um dia para o outro. Tudo começou a mudar e os números começaram a corresponder. Subitamente, nós, Portugal, consegue ter um SNS que consegue corresponder. Muita coisa correu mal? Sim, claro. Mas no geral isto está a correr muita bem. Mas ainda não podemos cantar de galo.
O cansaço começa a acumular-se. Estar em casa, com putos, já não tem assim tanta piada. Esta coisa do isolamento social vai custar mais à medida que a temperatura aumenta lá fora e as contas bancárias começam a sofrer. Como temos muita gente a ganhar mal e porcamente, o lay-off não é assim tão interessante como parece. As empresas entraram em stress imediatamente e o desemprego começa a disparar - e ainda não temos consciência do quanto. A economia sofre. Muito. E a economia somos todos nós. Uns mais do que os outros. Sempre os mesmos, é o costume. Não vai ser fácil para ninguém e vai ser muito complicado para muitos
E como tal a conversa começa a mudar. Começa a questionar-se o valor das vidas. Quer dizer, começa a ouvir-se muito mais a palavra "economia" e que a "economia não aguenta" mas não se põe em causa o modelo de vida que permite que a "economia", os famigerados "mercados", sejam quem continua a mandar nesta merda toda. Os adaptámo-nos mas a "economia" não mudará. E se a economia não muda, nada mudará e assim que esta crise passar - porque vai passar - tudo voltará ao mesmo. Sem tirar nem pôr. E isso deixa-me apreensiva e triste. Porque tudo vai mudar mas tudo ficará igual. Ou quase igual, apenas um pouco pior.