Pessimismo
Aguentei estoicamente a grande crise (e as pequenas também) mantendo um certo optimismo baseado na minha fé na humanidade. Em tempos de crise os Portugueses têm 2 coisas maravilhosas: são generosos e desenrascam-se. E acreditava que, no fundo, somos boas pessoas.
Os últimos tempos, com especial atenção para as últimas semanas, destruíram essa minha fé.
São as pequenas coisas que minam o meu optimismo.
O veneno das redes sociais quando, sob a coragem do anonimato ou das personagens virtuais, destilamos uns sobre os outros. A vontade de destruir, espezinhar os mais fracos. Quando temos a possibilidade de nos reinventarmos escolhemos transformar-nos em alguém que tem prazer em diminuir os outros, em humilhar.
As lutas politicas que nos embruteceram e estupidificaram. A total falta de humildade. A certeza de que sabemos tudo e que dominamos todos os assuntos e que quem não concorda connosco é burro ou está errado.
A desumanização do ser humano que nos faz olhar para um refugiado ou um muçulmano e não ver uma pessoa.
O racismo, a xenofobia, a homofobia que existe transversalmente na sociedade.
A ignorância relativamente a tanta coisa mas especificamente em relação ao quão privilegiados somos.
A falta de sábios. As pessoas que admiramos hoje em dia têm pouco de sábios. Esses não vencem, não são reconhecidos, não são lembrados.
Ouvir alguém dizer: "não sabia que o meu voto conta".
Uso a primeira pessoa do plural neste texto porque sei que também eu me incluo aqui. Engana-se quem acha que não se insere em nenhum destes pontos. A diferença é na intenção. Tento (e dou por mim muitas vezes a) pôr-me no lugar dos outros. E percebo que às vezes magoo sem ter intenção. E aprendo. E (tento) não voltar a repetir.