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Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

1 ano sem facebook

30.07.20, P.

Estou quase no meu "aniversário de sobriedade do facebook".  1 ano Facebook-Free.

Não pensem que uso a palavra "sobriedade" de ânimo leve. Acho mesmo que há uma altura em que as redes sociais em geral e o facebook em particular nos começam a intoxicar e viciar. Como em tudo há quem nunca passe de um consumo leve e benigno e há nem mergulhe numa espiral de consumo. 

Eu tenho consciência que sou uma pessoa banal. Se, por um lado, não sou particularmente vulnerável a adições (nunca precisei de me esforçar muito para parar de beber, não compreendo sequer o conceito de gastar dinheiro em jogo) por outro lado nunca fui obcecada com um estilo de vida livre de álcool ou fumo. 

Com as redes sociais aconteceu mais ou menos a mesma coisa. 

Os blogs foram a minha primeira e mais duradoura paixão. Talvez por ser aqui que partilho as minhas leituras e que conheci aquelas pessoas a que hoje chamo amigos. Acho que desde o primeiro blog que tive (salvo erro em 2006) nunca mais parei. Nem sempre sou assídua na escrita mas gosto disto. Nunca me esforcei por ter muitos leitores e isso nunca me incomodou. Consegui manter-me longe das tricas dos tempos áureos dos blogs (mas ri muito) e talvez por isso nunca tenha sofrido com o declínio da popularidade desta plataforma.

O facebook foi muito giro no início. Permitiu-me retomar contactos perdidos há muito, plantar árvores no farmville e mergulhar nos grupos fechados de leitores de variadíssimos géneros literários. É, aliás, da gente dos livros que tenho saudades. Ia lendo o que alguns escritores partilhavam e disso, sim, tenho saudades.

(como estará a Afonsina, a gata da escritora Maria Manuel Viana? Os textos maravilhosos da MMV faziam-me sempre rir)

Mas, às tantas, aquilo começou a incomodar-me (já falei sobre isso no texto a que faço menção lá em cima, por isso não vale a pena repetir-me) e saí. 

E foi um ano óptimo nesse aspecto. A minha vida tornou-se só minha outra vez. Não tornei a falar com algumas pessoas mas isso apenas significa que elas têm tanto interesse por mim como eu por elas, case closed. Mantive o contacto com quem quis e estive livre das picardias, das discussões, da parvoíce. Acreditem, irritei-me muito menos vezes (acho que os meus cabelos brancos agradecem). Provavelmente perdi vários convites, aniversários e muita informação mas não me parece que tenha sido nada de relevante. E, às vezes, menos é mais.

Depois de uma experiência com sucesso há que manter a tradição. 1 ano depois de ter acabado com o FB vou acabar com a conta de Instagram. Na verdade aquela rede social nunca me disse grande coisa e não acrescenta nada à minha vida. E, tendo em consideração que, desta vez, avisei que ia terminar a conta e 22 pessoas assumiram "gostar"disso, acho que estou no bom caminho.

Talvez crie aqui uma nova tradição. 

Vamos falar de teletrabalho?

21.07.20, P.

Há quatro meses fomos, muitos de nós, para teletrabalho. Nessa altura escrevi este texto que continuo a subscrever.

Na altura a minha experiência em teletrabalho resumia-se a alguns dias por mês, de acordo com as regras da empresa onde trabalhava.  E trabalhar alguns dias por mês é muito diferente de trabalhar em casa de forma permanente. 

Comecemos pelas desvantagens e pela afirmação mais polémica de todo este texto: o teletrabalho não é para todos.

Nem toda a gente tem a disciplina para trabalhar remotamente. Há quem não consiga cumprir horários, que aproveite o tempo de trabalho para despachar uma série de coisas em casa e que não consiga compensar depois. Há quem não tenha autonomia suficiente para trabalhar sozinho. Há quem não tenha conhecimentos suficientes para trabalhar de forma autónoma. Há quem não goste de trabalhar sozinho. Para estes, o teletrabalho não é uma boa opção e tentar dizer que trabalhar remotamente é igual a trabalhar de forma presencial num escritório é estúpido.

Por outro lado, há quem não tenha condições em casa para trabalhar. Temos, no geral, casas pequenas para as nossas necessidades e ter um escritório é muitas vezes um sonho e não uma realidade, especialmente para quem tem filhos ou pais a viver consigo. Abdicar da sala, trabalhar no quarto ou na cozinha pode ser exequível para não é a opção perfeita. 

Passar 24h/dia em casa também não é fácil. Não ter contacto com colegas ou com pessoas diferentes pode ser um alívio e uma enorme limitação. Para os miúdos que começam agora a trabalhar pode tornar-se num problema social grave. Para quem luta contra depressões ou sofre violência doméstica pode ser trágico.

É necessária uma enorme discussão à volta do teletrabalho. Horários, pagamentos (não acho que um trabalhador deva receber mais por estar em teletrabalho mas também não é justo que receba menos), quem paga o quê (internet, impressora, papel, para não falar da luz, de ecrãs ou de cadeiras ergonómicas). Que essa discussão seja tida com seriedade por todas as partes.

Agora a parte boa.

Já vos disse como é bom trabalhar com o pé ao léu nestes dias de verão?

Dei-me lindamente a trabalhar de casa. Consigo ter a disciplina para cumprir horários e o pior mesmo é a quantidade de chamadas e vídeo-chamadas que me cortam um bocadinho o raciocínio. Mas gosto imenso de trabalhar remotamente.

E o teletrabalho salvou-me a vida nesta época de pandemia. Permitiu-me dar apoio a alguém que precisa de mim. Apoio que seria impossível ser dado da mesma forma se estivesse a ir todos os dias para o escritório. Permitiu-me ter paz para dormir. Permitiu-me ter capacidade e disponibilidade (mental e emocional) para ser uma melhor profissional. A empresa ficou a ganhar, eu fiquei a ganhar e a pessoa que precisa de mim ficou a ganhar.

Se considerarmos que se estima em Portugal a existência de mais de 800 000 cuidadores informais é muito fácil perceber como o teletrabalho neste contexto não tem uma dimensão displicente. Não será solução em todos, nem na maioria dos casos, mas é uma ajuda imensa. Poder estar em casa para garantir a medicação e a estabilidade (e muitas vezes, ou durante algum tempo, essa é principal necessidade) seria óptimo para todos, incluindo as empresas que teriam funcionários mais presentes, ainda que em teletrabalho, estimulados, mais assíduos e em paz. 

Para quem tem filhos pequenos, por exemplo, o teletrabalho poderia significar evitar os ATL's. Os benefícios para o ambiente são inegáveis. 

Para o interior do país, que não consegue criar trabalhos suficientes, poderia ser a salvação. Quantas pessoas optariam por sair das cidades e ir para aldeias e vilas pequenas, iniciando um ciclo de criação de empregos, repovoamento e renovação? 

E para quem não pode, pela natureza do seu trabalho, ou não quer, por gosto e opção, também beneficiaria com isto: imaginem metade do trânsito. Imaginem transportes públicos com menos gente, imaginem tempo poupado de manhã e à noite.

Ponderação, discussão, precisa-se porque, não duvido, o teletrabalho é algo de positivo pelo qual vale a pena lutar.