Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

idiossincrasias

27.05.20, P.

"ai q'horror" ir à praia mas OK ir ao restaurante

"ai q'horror" ir ao restaurante mas OK ir à missa

"ai q'horror" ir à missa mas OK ir ao teatro

"ai q'horror" ir ao teatro mas OK ir prá esplanada

"ai q'horror" ir à esplanada mas OK ir ao bailarico

"ai q'horror" ir ao bailarico mas OK ir aos centros comerciais

"ai q'horror" ir aos centros comerciais mas mas OK ir a festivais

"ai q'horror" ir a festivais mas OK ir ao Avante

"ai q'horror" ir ao Avante mas OK ir à praia

....

fartinha das merdices das redes sociais, oh se estou!

tenham mas é cuidado e consciência, protejam-se a vocês, aos vossos e aos outros

verão 1 - SarsCov2 0

26.05.20, P.

É basicamente isto. "Ah e tal, não podemos deixar o medo ganhar"

oh senhores, mas haveria alguma coisa a manter os portugueses em casa com bom tempo? 

(vá, tenham mas é cuidado, mantenham as distâncias, para que os números se mantenham aceitáveis)

 

 

acordar

21.05.20, P.

WhatsApp Image 2020-05-21 at 08.23.04.jpeg

 

 

Odeio acordar. São pura tortura aqueles minutos em que ainda estou deitada mas que sei que tenho de me levantar, "dentro de 5 minutos", "agora 3", "vou mexer uma perna nos próximos 30 segundos" e entretanto já passaram 15 e já estou oficialmente atrasada e eu ainda detesto mais estar atrasada que levantar-me. Mas a verdade é que trabalhar de casa tem as suas vantagens e "estar pronta no tempo de um duche" não é uma das displicentes.

A verdade é que esta hora em que estou a trabalhar antes da casa acordar, em que abro a janela, oiço os passarinhos e sinto o cheiro de um dia de verão a nascer, a verdade é que esta é uma das melhores horas do meu dia. O trabalho rende a dobrar e o cheiro do café acabado de fazer que se mistura com o cheiro do dia a acordar deixa-me alerta. 

Bom dia, gente!

 

 

desconfinando

11.05.20, P.

serra.jpeg

Voltei a casa, este fds. Infelizmente não tive a opção de vir para aqui "confinar" e estava cheia de saudades. 

E sim, desconfinei um bocadinho, no sábado. Vi pessoas da família que não via (pessoalmente) há meses. Ri em família. Gozei com os penteados "caseiros" da miudagem. E fez-me bem.

Também vi, na rua, muita gente. A  grande maioria de máscara e com a ter em consideração as distâncias de segurança.

Claro que há sempre quem se considere invencível. Há ali um grupinho, geralmente homens de meia idade, que à porta do café enfrentam o SarsCov2 de cerveja em punho e cara a descoberto. Tenho sempre vontade de dizer "Ah, valentes" e recitar-lhes o poema do António Lobo Antunes "todos os homens estão maricas quando estão com gripe" (ficam aí com a declamação do Pedro Lamares, e não digam que vão mal). Há ali, claramente, um problema de "eu sou macho e não uso máscara".

Mas mulheres, jovens e idosos, no geral, a cumprir.

Os idosos tentam mas ainda precisam aprender a usar bem a máscara, a desistir das luvas e a proteger-se mais. O desconfinamento faz deles o elo mais fraco e desconfio que assim vai continuar. Somos nós que os temos que convencer a proteger-se. Porque até haver vacina (e rezemos para que esta apareça antes da malfadada imunidade de grupo) só o distanciamento e a protecção pode ajudar.

Eu sei que estamos todos a manter-nos afastados para os proteger mas arranjem maneira de os ensinar a usar bem as máscaras, façam-nos perceber que as máscaras descartáveis não podem ser reutilizadas e muito menos dobradinhas e muito bem colocadas dentro da mala ou a "apanhar ar em cima da mesa da cozinha". Façam-nos esquecer as luvas e ofereçam-lhes frasquinhos de álcool gel (ou arranjem um frasco/spray pequeno  para encher de álcool normal). É bem mais eficaz. Digam-lhes que as luvas antigas que têm em casa não servem de nada... mesmo que as lavem várias vezes. Tenham paciência mas sejam insistentes. E tem que ser pessoalmente, nada disto vai ter qualquer efeito prático por telefone.

E depois deste fim de semana, de coração um bocadinho mais cheio, vou regressar à minha bolha, à minha casa e ao meu confinamento.

Stay home and safe.

Dia 4 - O silêncio de gente

07.05.20, P.

Ainda não "desconfinei". A vida esta semana é exactamente igual à das últimas semanas. Sair apenas para o que é fundamental e para os "Passeios higiénicos".

Aqui entre nós haverá coisa mais parva que chamar ao "passeio para não dar em louca, apanhar sol nas trombas e esticar as pernas" de "passeio higiénico"? Eu nunca consigo pronunciar o tal "higiénico" sem um levantar de sobrolho e um tom ligeiramente irónico. 

De qualquer modo, com o sol que resolveu regressar, regressou também uma vontade de ir dar uma volta. O melhor de daqueles vinte minutos é o silêncio. Saímos, eu e a minha mãe, mantemo-nos perto de casa, raramente encontramos alguém e, em determinada rua, somos cumprimentadas por todos os cães que ali vivem. E quando digo "cumprimentadas" quero dizer que eles ladram e eu digo "olá" de volta. Sem ladrar, escusam de estar aí já a fazer piadinhas. Há dias em que tagarelamos o tempo todo e há dias em que caminhamos naquele silêncio cúmplice. E vemos cada flor. As papoilas à beira da estrada, os malmequeres que teimam em crescer, o rosmaninho, as rosas, as buganvílias que enfeitam os muros e um jardim cheio de gardénias em flor. Ouvimos o som dos pássaros, dos insectos, da natureza a ganhar vida. E as nespereiras que estão carregadas e que são uma tentação.

A vida terá que regressar mas vou ter saudades deste silêncio de gente.

 

dia 1 - o dia depois de ontem

04.05.20, P.

Hoje fiquei em casa. Não me apetece sair. Mais, acho que não devo sair.

Pelos relatos que fui ouvindo aqui e ali, muita gente sentiu que hoje era o dia D, o dia da libertação. Pessoalmente também acho que é o dia D. O dia decisivo para percebermos se isto vai correr bem ou nem por isso. Eu quero muito que corra bem. Que os números continuem baixos, que tenha a sorte de não chorar ninguém. A maioria de nós não conhece ninguém que tenha morrido com esta merda. E isso faz com que, muitas vezes, os números sejam apenas números. Mas não são. São pessoas. E eu, como não quero perder as minhas pessoas, fico em casa.

Na verdade isto nem sequer é altruísmo. Eu gosto de ficar em casa. Gosto da casa, dos meus e da segurança que sinto aqui. 

Também tenho noção que esta é uma janela de oportunidade. Por um lado, está agora apenas nas nossas mãos controlar este virús. Acabou-se a possibilidade de responsabilizar o governo. Agora somos nós, cada um com as suas acções, a decidir como queremos que isto corra. Por outro lado, esta é a altura mais segura para respirar um bocadinho. Inevitavelmente, a rua vai ser menos segura de futuro. Mais gente na rua, mais probabilidade de contágio. Simples. E que haja qualquer coisa simples, já que o resto é tudo tão complicado.

Por tudo, hoje não saí. Amanhã provavelmente também não.