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Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

em teletrabalho

31.03.20, P.

Não é, para mim, propriamente uma novidade. Trabalho "de casa" com alguma regularidade e, por isso, não passei por nenhum período de adaptação, não tive qualquer dificuldade logística ou informática. 

Bem, na verdade, como agora somos 2 em teletrabalho simultâneo tivemos que fazer algum investimento para transformar a sala num escritório para 2. Cadeiras confortáveis para 2, ecrãs para 2 (só tínhamos 1 mas foi só ir à empresa buscar o outro) e depois desistir de ter mesa da sala definitivamente, ligar a impressora, juntar post-its, canetas e afins e voilá... um espaço de trabalho.

Um conselho: não usem o sofá durante as horas de trabalho. Para além de ser muito mais fácil procrastinar no sofá, é igualmente importante fazer a distinção entre trabalho e lazer, especialmente numa altura em que estamos confinados a casa.

Cumpram horários de trabalho. De entrada e de saída. Estar a trabalhar de casa não significa estar disponível 24 horas por dia. É ainda mais importante desligar. Isto pode significar também tirar as notificações do grupo de whatsapp do pessoal de trabalho que não pára durante todo o fim de semana.

Estar a trabalhar de casa não significa ter tempo para ir fazendo outras coisas. Não, não dá para fazer o almoço entre duas reuniões, nem dá para estender a roupa, limpar a casa de banho ou fazer as camas em horário laboral. Também não dá para pôr os telefonemas em dia.

Estabeleçam objectivos diários, semanais ou como vos der mais jeito. Mantenham-se focados no que precisam fazer, quando e não sejam brandos convosco. Não se habituem a não fazer a ponta dum corno. Respeitem o vosso horário laboral. Exijam que os vosso familiares respeitem o vosso horário de trabalho. Respeitem o horário de trabalho dos outros. 

Façam pausas. Não estejam sentados em frente ao computador horas sem fim. Bebam água, façam chá ou café. Lavantem-se uns minutos de vez em quando. Mas não aproveitem esses minutos para fazer o almoço, para estender a roupa ou para aspirar a casa. Vão à janela, oiçam uma música ou dancem um bocadinho. Mas não se distraiam o suficiente para depois ser difícil regressar ao trabalho.

Todos temos dias em que nos é difícil concentrar. Todos temos dias em que não nos apetece faz nada. Acontece. Vai continuar a acontecer mesmo em casa. Não vale a pena fazer disso um drama. Mas não vão para o sofá ver uma série de TV. Arrumem o email, escrevam um diário, façam qualquer coisa que não exija o vosso melhor mas não se esqueçam que estão a trabalhar. 

Tentem ser produtivos. E talvez com isso consigam ganhar alguns minutos ou até uma hora ou outra para vocês, aqui e ali. 

Tenham como objectivo provar aos v/ chefes e a vocês mesmo que o teletrabalho é uma opção válida e que não precisa ser esquecida depois de tudo isto passar - porque vai passar. Ganhem este privilégio (porque não duvidem que é um privilégio).

...

28.03.20, P.

Não sei quanto a vocês mas eu começo a sentir-me sobrecarregada com informação. E ainda assim tenho uma dificuldade enorme em parar de a consumir. Como se saber os números do COVID no nosso e noutros países pudesse ajudar nalguma coisa. Como se ajudasse a ter o controlo sobre alguma coisa. E acabo por ver o mesmo, vezes sem conta. Apetece-me desligar tudo por uns dias. Parar. Ficar em verdadeiro isolamento social. Parece que agora, mais que nunca, a comunicação é uma coisa activa. Tenho saudades do meu silêncio.

 

tudo é relativo

27.03.20, P.

Com o estado de emergência veio a definição de bem essencial que permite que as lojas que vendam esse produto se mantenham abertas. Pelas msgs que tenho recebido essa definição está cada vez mais lata.

Acabamos esta "quarentena" em estado de emergência, com todas as lojas abertas e com pessoal na praia.

haja paciência

#FiquemEmCasa

A esola acabou. E agora?

27.03.20, P.

Devo começar por dizer que não sou professora nem tenho filhos em idade escolar. Fui aluna durante muitos anos, acompanhei várias crianças ao longo do seu percurso escolar e, como filha, prima e amiga de professores, ouço-os bastante. 

Ao longo das últimas semanas tenho ouvido várias opiniões. Tenho ouvido pais cansados com a quantidade de trabalhos que os filhos têm para fazer - e agora que também são meio professores a coisa fica diferente; tenho ouvido professores cansados com a dificuldade que é tentar ensinar à distância; tenho ouvido gente que não sabe muito bem como proceder nem o que fazer para continuar a ensinar.

Fala-se da possibilidade da avaliação do segundo período ser a avaliação final, de uma espécie de passagem administrativa e eu questiono-me sobre o melhor a fazer. O que prejudica menos alunos?

Acho que, nesta altura do campeonato, ninguém tem dúvidas de que o terceiro período não vai ter aulas presenciais. Os professores, pais e alunos vão continuar de quarentena. Vamos tentar não dar todos em malucos nos próximos meses, quando virmos o mundo a sofrer com esta pandemia.

A minha questão: quais as consequências disto tudo? 

Alguns pais têm condições para ensinar os filhos em casa. Dar-lhes apoio, fazer coisas giras, estimular-lhes a criatividade e esta diferença na forma de ensinar e aprender vai ser benéfica. Esses não me preocupam. Têm todos as ferramentas para fazer disto uma experiência para a vida. mas estes serão a minoria.

Depois haverá os pais que até têm capacidade para os ensinar mas que já não têm condições. Seja porque os putos são umas pestes e já não aguentam estar fechados em casa (ainda por cima com trabalhos para fazer) seja porque eles já não conseguem estar fechados em casa, têm muito trabalho, pouco dinheiro e estão a fazer das "tripas, coração" para não dar em doidos.

E depois há os outros, os que não conseguem ajudar os filhos porque não sabem, porque lhes falta o conhecimento, a capacidade, o tempo. 

Uma professora dizia-me: vou mandar-lhes trabalhos como se muitos deles não têm computador em casa e os que têm são demasiado pequenos para trabalhar sem ajuda (e os pais, bem, não dá...)? Porque sim. há neste país muita gente que não tem computador em casa. E há muitos miúdos que são unicamente acompanhados pelos professores, pelos funcionários. 

Para estes, esse vai ser um ano perdido. E para muitos outros também. Mas os prejudicados são os de sempre. Os mais pobres, os filhos de quem tem que continuar a trabalhar para que o país não pare por completo (que muitos vão lembrar-se deste época como uma época de medo). 

E uma vez mais não vai haver justiça nem igualdade. Porque igualdade também é igualdade de oportunidades e o sistema de ensino, por muitos defeitos que tenha, é o único garante de luta pela igualdade de oportunidades. São os professores, esses que são tão maltratados por todos, que dão as ferramentas necessárias a que muitos miúdos consigam lutar por uma vida melhor e mais justa. 

Mas e agora? Como se vai arranjar forma de dar a volta a isto?

 

da Raiva e da Tristeza (ou "Sê quem queres SER")

26.03.20, P.

As notícias que chegam  de Espanha são horríveis. O medo sobrepõe-se a tudo. Infelizmente. Até à mais básica das humanidades.

Há idosos mortos encontrados em lares ao lado dos vivos (nem quero pensar no que levou a que coisas destas acontecessem) e há ambulâncias com idosos com COVD19 a serem apedrejadas e alvo de outros ataques.

Não sei o que vai acontecer depois desta fase. Não sei quem vamos ser. Gostava que conseguíssemos manter o respeito por nós mesmos. E não é com estas atitudes que o vamos conseguir. 

Talvez seja um cliché dizer que é nestas altura que temos que nos superar enquanto seres humanos, que é nas adversidades que a empatia e o melhor de nós vem ao de cima. Mas é isso que precisamos ser agora: melhor que ontem, melhor que aquilo que somos. 

Ou pelo menos que não nos tornemos em vermes que apedrejam idosos

Compras em tempo de pandemia

26.03.20, P.

Sou cliente assídua do continente online com entrega em casa. Dá-me jeito, (acho que) poupo dinheiro e tempo. Antes disto tudo começar, nós fizemos uma compra grande e preparámos os armários para uma possível quarentena de cerca duas semanas. Era o tempo que, na altura, se pensava ser necessário. Para além das compras habituais no continente online, fui ao talho do costume e comprei carne para muito mais tempo do que o habitual, à frutaria do costume, à loja de produtos biológicos onde compro a farinha para o pão e ao Lidl que tem alguns produtos que não compro noutro sítio. No dia em que vim trabalhar para trabalhar só precisei passar no veterinário e comprar mais um saco de comida para o gato, dois sacos da areia habitual (andávamos há mais de uma semana a dizer que nos faltava isso) e pronto, entrei em modo isolamento.

Depois disso ainda fiz uma encomenda do continente que me será entregue no dia 08 de Abril e que será uma surpresa - sinceramente já não me lembro o que encomendei mas como nesta fase só compro cenas básicas, certamente terá coisas que dão jeito.

Mas depois deixei de ser parvinha. 

Agora, só faço compras aqui no bairro. A mercearia do fim da rua, tem tudo aquilo que possa ser necessário - até tem papel higiénico com fartura - desde congelados e frescos (tenho comido imensos morangos este ano)  até doces, sabão azul ou latas de conserva. E já aprendi as horas a que está vazia. 

Aproveito, estico as pernas, caminho um bocadinho e trago o que preciso. 

E não, não vou lá todos os dias. Vou talvez, duas, três vezes por semana. Basicamente vou lá quando preciso de comprar fruta ou legumes. Se (Quando) as coisas piorarem logo me apoio nas latinhas de ananás e pêssego que comprei para colmatar essa falta.

Há várias razões que me fazem optar pela mercearia e pelo comércio local. A qualidade dos frescos - frutas e legumes - sempre foi uma razão para ir ao comércio local. Há anos que não compro fruta nas grandes superfícies e sinceramente não pretendo mudar isso. Nestas lojinhas há de tudo. Mesmo que, às vezes com marcas manhosas, mas há de tudo. Nem sempre é mais caro - as cápsulas de café, por exemplo, são bastante mais baratas que em qualquer grande supermercado. Não percebo mas há anos que reparei e só as compro ali. A relação pessoal - se há qualquer coisa que quero e não há, basta-me pedir e uns dias depois já está disponível para compra.

Nesta fase, a acrescentar a isso, há o facto de preferir que o meu dinheiro vá para o comércio local que para as grandes superfícies. Mesmo em termos de exposição ao vírus, confio mais naquelas pessoas que são uma família, protegem-se uns aos outros e aos seus empregados (que são poucos e tb um pouco família) que nos responsáveis pelos grandes cadeias de hipermercados. Além disso, as lojas pequenas têm um ambiente mais controlado que as grandes superfícies - que não estavam, de todo, preparadas para este embate  e cuja preocupação com os seus "colaboradores" é, no mínimo, questionável.

Tenho lido por aí que faltam coisas, que as prateleiras estão vazias, que não podem fazer uma sopa ou outras baboseiras do género. Até pode vir a acontecer (espero que não cheguemos a tanto) e até pode acontecer em situações pontuais. A minha experiência é a contrária: tenho tido à minha disposição produtos de boa qualidade e sem filas nem confusões (basta-me falhar a hora de entrega do pão e tudo corre bem).

Comprem português, comprem local e talvez se surpreendam pela qualidade e quantidade que está disponível.

 

 

 

 

aprender a partilhar

23.03.20, P.

Eu tenho a sorte de ter amigos espectaculares e que me fazem pensar e ser mais e melhor. Uma dessas pessoas é a Joana que, às vezes, muitas vezes, partilha connosco textos, pensamentos e reflexões. Numa época em que somos obrigados a viver isolados, em que se torna impossível ignorar quem somos, encontrar formas de comunicação e de crescimento é tão importante quanto ter comida no frigorífico.

Eu tenho alguma dificuldade em partilhar quem sou, os meus medos, os meus sonhos. Tenho sempre medo de impor a minha presença, mesmo que apenas virtual. E por isso fico sempre encantada quando vejo pessoas que são capazes de partilhar desta forma. 

Quando era miúda sempre me senti atraída pelo diário. Gostava de ler diários (dos que estavam publicados, ok?) e volta e meia começava a escrever um. Mas desistia sempre. E desistia porque sabia que estava a escrever aquilo que gostava de ser  e não aquilo que tornaria aquele texto uma verdadeira página de um diário.  E não escrevia porque não queria correr o risco - que qualquer pessoa que tenha um irmão  sabe existir - que alguém, não autorizado, lesse aquilo que escrevia. Habituei-me a calar, a guardar esses pensamentos apenas para mim. E quando cresci tornou-se demasiado difícil mudar de hábitos.

Os blogs sempre foram um meio termo. Por aqui, nestas plataformas, vou escrevendo aquilo que não me apetece calar mas que não me incomoda partilhar. Mas calo muito mais que partilho - esta minha mania da privacidade. Quem sabe esta época de isolamento me faça ser um pouco diferente e ressuscitar este blog.

Estais aborrecidos???

18.03.20, P.

Ainda gostava de saber como raio as pessoas têm tempo para se sentir aborrecidas só por causa deste isolamento. Eu percebo as que estão à beira de um ataque de nervos porque têm uma casa minúscula e subitamente têm dois ou três gaiatos a saltitar por todo o lado. Eu percebo o medo desta doença nos mudar a vida. Percebo o medo de quem tem "mais velhos" a seu cargo, percebo a preocupação de lhes passar qq coisa). 

Mas não percebo o aborrecimento. E queria perceber. É que eu tenho imensas saudades de estar aborrecida. De ter que inventar o que fazer. De ter tempo de sobra para ler ou para adormecer no sofá ou de pensar num novo passatempo. 

Estar em isolamento social implica ter gente numa casa a 100% (até o gato fica farto de nós  e precisa do seu espaço para dormir). Gente que faz todas as suas refeições em casa (para além de ter que me preocupar com o jantar agora tenho que me preocupar com todas as refeições e lavar loiça de todas as refeições - vá, pôr e tirar da máquina). Gente que suja mais que o normal (além disso, à luz do dia, o pó é muito mais perceptível). Gente que está fechada numa casa e que partilha todos os seus estados de espírito. E para além disso o trabalho é a tempo inteiro. Quer dizer, a tempo inteiro mais qualquer coisa que, sendo o escritório em casa, parece estar implícito que toda a gente (uns mais que outros, como habitualmente) está mais ou disponível a qualquer hora.

No meio disto tudo, digam-me lá onde arranjam tempo para se aborrecerem por não terem nada para fazer?

 

Vivemos tempos... interessantes

17.03.20, P.

Tive que ir ver de quando era o último post, já não me lembrava quando tinha vindo escrever aqui qualquer coisa. Foram pouco mais de dois meses mas bem podia ter sido uma vida, não é? tudo mudou entretanto.

O mais óbvio é que estamos em quarentena. Acho que quando escrevi o último post ainda não estava ciente do que se estava passar no mundo mas esta foi uma situação que tenho acompanhado dia a dia. Primeiro a situação da china que me deixava com uma tristeza imensa e furiosa por o mundo inteiro parecer considerar aquele um problema dos outros. Depois foi o olhar todos os dias para o mundo e ver as piores previsões ganharem forma. A única coisa boa desta minha obsessão foi que, quando começou a corrida aos supermercados, eu já estava preparada e não precisei de ir para uma fila.

Mas muita coisa aconteceu nestes meses. Não, não fiquei grávida nem pari, se essa era a v/ questão. 

Mas mudei de empresa, por exemplo. Na verdade não fui só eu, foi todo o meu serviço e com esta questão da COVID19 está tudo um bocadinho "engonhado" (expressão técnica para estas salganhadas) mas tudo se há-de resolver. So far so good e isso é que interessa.

E fiz anos. Mais um. Já são 41 e já preciso fazer contas para saber que idade tenho porque não me sinto com 41. talvez com 40. Ou uns dias com 25, outros com 85. Mais ou menos isso.

E li menos do que queria, vi menos séries do que queria mas acho que posso culpar o bug manhoso que anda por aí disso.

Há dois meses não imaginávamos que iríamos passar tanto tempo em casa (so far, não é coisa que me custe), em isolamento social e que iríamos assistir a uma das maiores mudanças sociais e culturais de muitas gerações. Vimos o crescimento, o advento da era tecnológica. E agora ainda não sei bem o que vamos ser mas acredito que seremos algo diferente. Espero que sejamos algo melhor mas leio demasiadas distopias para acreditar verdadeiramente nisso. Mas estou expectante, quero ver como se vai o mundo reinventar.