A importância de pedir ajuda
Uma das coisas que acho maravilhosas é que quando perguntamos a alguém qual o seu maior defeito a resposta é invariavelmente uma de três: "tenho um mau feitio dos diabos", "sou demasiado teimosa" ou "sou demasiado perfeccionista". (tb há a versão "sou demasiado boazinha" mas isso já entra, para mim noutra categoria e fica para outro post)
Claro que é normal que, numa situação em que nos pedem para revelarmos o pior que temos e somos, queiramos dar a volta à questão e mostrar que o nosso pior é, afinal, óptimo. Sim, porque neste contexto "demasiado teimoso" significa "sou perseverante, corajosa e não desisto"; "demasiado perfeccionista" significa "sou boa no que faço, gosto de o fazer bem feito" e "tenho um mau feitio dos diabos significa "tenho sangue na guelra, não sou amorfa e estou aqui para a luta". Em termos de contexto de trabalho todos estes "defeitos" são qualidades imensas (claro que se eu fosse uma entidade patronal e me dessem respostas destas, eu ia apenas revirar os olhos).
Em termos reais e sociais, qualquer uma destas três características pode ser um problema grave. Um mau feitio dos diabos pode transformar-se num problema de raiva e de violência; a teimosia e o perfeccionismo levados ao extremo podem transformar-se em algo incapacitante.
Mas pedir ajuda ainda não é algo em que pensemos. Aliás, acho que cada vez mais "pedir ajuda" é algo que evitamos fazer. Mesmo quando admitimos ter um problema, só o facto de nos sugerirem procurar ajuda - profissional ou não - nos põe à defesa. Pedir ajuda significa - demasiadas vezes - obrigarmo-nos a enfrentar e a admitir um problema. Pedir ajuda obriga-nos a des-enfiar a cabeça da areia (eu podia ter escrito "tirar" mas não era a mesma coisa). Pedir ajuda podia de facto transformar a nossa vida em algo melhor e mais fácil mas tirar-nos-ia o gostinho de dizer "eu consegui sozinha". Pedir ajuda podia salvar-nos a vida. Mas isso lá é importante?
A verdade é que o meu maior defeito não é ter mau-feitio (que tenho), nem ser teimosa (que sou), nem perfeccionista (tenho dias)... essas são algumas das minhas qualidades. Um dos meus (muitos) defeito é mesmo a dificuldade que tenho em pedir ajuda. Eu, que gosto de ajudar, que compreendo a importância e a necessidade de pedir ajuda na altura certa, tenho uma dificuldade imensa em pedir ajuda quando preciso.
Também é verdade que não estou à espera que ninguém adivinhe que preciso de ajuda (aquelas pessoas que ficam muito ofendidas porque a malta não sonhou que precisavam de nós ou que o sorriso era apenas uma máscara, tiram-me do sério) mas a minha tendência é enrolar-me em mim mesma, desaparecer por uns tempos, acentuar o mau feitio e tentar manter-me à tona de água. E se é verdade que até agora tenho conseguido, a verdade é que já engoli alguns pirolitos e já apanhei uns sustos com as ondas maiores.