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Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

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Eutanásia

23.05.18, P.

Vão ser discutidas na próxima semana várias propostas sobre a despenalização da eutanásia e o tema anda a causar furor nas redes sociais e igrejas. Mas como (quase) tudo o que causa furor nas redes sociais (e igrejas) a desinformação é igual ou superior à informação. E este processo de tentativa de aprovação de uma matéria tão importante tem sido o maior exemplo de desorganização deste país à beira mar plantado.

Um tema complexo, importante e com consequências tão importantes como este e está a ser tratado às 3 pancadas, com uma tentativa de vitória na secretaria. Lamento, isto é coisa que não perdoo aos deputados.

Se querem uma declaração de intenções dou-a com clareza: eu sou a favor da eutanásia. Espero ter um dia a hipótese de escolher o momento em que linha vermelha da dignidade mínima da vida foi ultrapassada e gostava de poder tomar essa decisão dentro da lei (até para não ter que ser tomada cedo demais).

Mas tenho muitas dúvidas. Tenho dúvidas acerca da formulação da lei, tenho dúvidas e mais dúvidas e não as vi esclarecidas. Não houve, nem de perto nem de longe, informação suficiente, debate suficiente, exaustivo. Não houve ponderação do país, das pessoas. Eu compreendo perfeitamente que esta matéria não seja levada a referendo – é que em referendo perdia liminarmente - lembram-se de lá em cima eu falar da igreja? A Igreja está a dar toda a informação e a fazer uma campanha contra a eutanásia de se lhe tirar o chapéu. E o CDS (para este efeito vou chamar-lhe uma espécie de braço político da igreja) também. Uma campanha sistemática e organizada.

E os defensores da eutanásia o que fazem? Declarações de interesse nas redes sociais. Não promovem o debate porque basta alguém ter a audácia de ter uma dúvida para ser imediatamente julgado e condenado – como se as dúvidas não fossem legítimas e importantes para chegar ao melhor resultado possível.

Um tema como este, que tem repercussões no âmago da sociedade em geral e em cada vida individual, e não está a ser discutido. Está a ser usado como arma política, religiosa.

Eu estou convencida que os projectos de lei não vão ser aprovados no parlamento. E isso preocupa-me. Se forem aprovados, será por unha negra e isso também me preocupa porque vão ser vetados pelo PR. Não sei se a sociedade está preparada para ter esta discussão. Mas sei que a sociedade não está preparada para tudo o que está a acontecer neste momento em relação a este tema (e a todos os temas que estão directamente relacionados com ela como cuidados paliativos, doenças crónicas, velhice, morte). E isso preocupa-me muito. Porque enfiar a cabeça na areia não ajuda ninguém.

Perdoar é fácil. Difícil é o resto.

19.05.18, P.

Mais difícil que pedir desculpas, muito mais difícil que perdoar é pedir ajuda. Não é a da pedinchice quando nos dá jeito ter o amigo médico que desenrasque uma receita para aquele medicamento urgente que acabou ou quando pedimos ajuda ao informático do grupo. Falo daquela ajuda mais básica e mais importante. Daquele "preciso de ti", daquele "preciso de um abraço". É difícil pedir ajuda e é difícil perceber quando os outros precisam de ajuda. É difícil perceber quando o silêncio significa apenas silêncio ou é um grito calado. Talvez seja tão difícil pedir ajuda como dá-la. Perdoar? Perdoar é fácil. Difícil é o resto.