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Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Vergonha, assombro, espanto, respeito!

27.03.18, P.

A banalidade com que se pega numa arma e se tira uma vida deixa-me estarrecida. O respeito pela vida nunca foi grande coisa ao longo da história da humanidade mas era suposto que tivéssemos evoluído. Os factos são gritantes. Não só não evoluímos como nem sequer estagnámos. A facilidade com que despersonalizamos os outros, nos sentimos superiores e como tal, sancionamos a sua morte, o seu extermínio é impressionante. 

Para o bem e para o mal, os Estados Unidos da América são o nosso espelho. E são aquele de quem esperamos os piores exemplos. Por isso, o movimento encabeçado por miúdos que se recusam a ser apenas vítimas da violência são um sinal para todo o mundo.

Estes miúdos dão-me esperança para o futuro. Num mundo em que os adultos lhes falharam, que está minado por corrupção e displicência,que está nas mãos de grupos cujos interesses colidem com a própria definição de humanidade, decidiram agarrar no futuro com as próprias mãos. 

Vejo tantos olhá-los com orgulho. Eu sinceramente não consigo olhar para eles com orgulho porque isso quase implica que eles são o resultado do nosso trabalho. Não são. São o resultado de uma degradação a que nós deixámos o mundo chegar. Eu olho para eles com vergonha, assombro, espanto, respeito.

Vergonha, porque deixámos, com as nossas acções ou as nossas inacções, o mundo chegar a este ponto. Assombro, porque fico maravilhada por miúdos terem a coragem de gritar contra o poder instituído. Espanto, pela forma como conseguem mobilizar. Respeito, por transformarem a dor, o sofrimento, em poder. E por usarem esse poder para algo positivo. 

E medo. Medo que tento afastar da mente. Medo deles não conseguirem ganhar. Medo deles se deixarem consumir. Medo deles se transformarem naquilo contra o qual lutam. Mas ainda assim com esperança. E confiança. Confiança na sua convicção, na sua coragem. Que eles triunfem e transformem o mundo num lugar mais digno. 

 

“Não consigo compreender porque estás no Facebook”

22.03.18, P.

O tema está na ordem do dia, parece que toda a gente acordou agora para os malefícios das redes sociais e foi com esta frase, não consigo perceber porque estás no Facebook, que a conversa começou.

Não vou discorrer sobre partilha de dados, sobre notícias falsas ou manipulação de dados e pessoas.  Vou falar um bocadinho sobre solidão.

Não me lixem, as redes sociais alimentam-se de solidão. Da solidão encapotada dos dias de hoje. É por isso que eu, que todos nós, estamos nas redes sociais.

É verdade que nas redes sociais fazemos amigos e que esses amigos saltam para a nossa vida. É verdade que as redes sociais têm imensas qualidades, permitem-nos ter acesso rápido a pessoas e conteúdos, a informação é-nos dada de bandeja, sem esforço ou limite. Para cada ponto negativo atribuído a uma rede social, eu arranjo-vos um positivo. E o contrário é também verdade.

Mas no final só vejo uma razão pela qual as redes sociais continuam e continuarão a proliferar: as redes sociais espantam a solidão e criam a ilusão de partilha, de amizade, de companheirismo.

Numa sociedade sem tempo útil, onde o perto se fez longe pelas vidas, onde cada vez é mais difícil combinar um café (apesar de termos todos carros à porta e haver esplanadas por todo o lado), onde é cada vez mais raro pegar no telefone só para conversar (apesar das chamadas serem de borla e todos termos um telefone connosco 24/7) ou enviar uma carta só porque sim (apesar do email ter tornado instantâneo essa comunicação) é através das redes sociais que a ilusão de “companhia” se faz.

Virtualmente temos centenas de amigos, milhares de conhecidos. Virtualmente “seguir” alguém deixou de ser considerado voyeurism para se tornar simpatia. As redes sociais permitiram que nos tornássemos naquilo que queremos ser: simpáticos, fofinhos, bullys, corajosos, sábios. Os likes e afins permitiram que nos sentíssemos aceites. E “pertencer” é tudo aquilo que a maioria de nós sempre quis.

Quando eu era miúda tinha o meu grupo de amigos, passava horas ao telefone (até que alguém cortava a chamada), sofria com a ausência, brincava na rua. Na adolescência passava o tempo no café, ficava na rua a conversar até sermos chamados para jantar.

O tempo, a segurança e tudo o mais que é prioritário impede que este contacto pessoal, tão importante, seja possível hoje em dia. E as redes sociais dão-nos uma falsa sensação de que isto ainda acontece.

Sim, o Facebook e as restantes redes sociais aproximam-nos dos outros.

Mas a verdadeira razão para que tanta gente se mantenha nas redes sociais é o medo que a ausência nos torne invisíveis. Que a falta da nossa presença nos faça cair no esquecimento e que descubramos que a maioria dos nossos amigos, tão presente, não o é assim tanto.

Afinal, quando foi a última vez que o vosso telefone tocou e era apenas um amigo a querer jogar conversa fora? Quando foi a última vez que a campainha da vossa porta tocou porque um amigo resolveu visitar-vos sem avisar e vos dar tempo de limpar a casa? Quantos dos vossos amigos já foram à vossa casa? Quando foi a última vez que foram ao café e se sentaram na mesa do costume, com as pessoas do costume? Quando foi a última vez que a vossa gargalhada foi ouvida em vez de lida, foi real em vez de LOL?

Este é o verdadeiro poder das redes sociais: o alimentarem-se da solidão para que nós não sejamos absolvidos e vencidos por ela.

E isso é simplesmente triste.

Avulso

06.03.18, P.
  • Tentei ver os Prós e Contras sobre a possibilidade de deixar entrar animais em restaurantes. Digo tentei porque não tive estômago ou nervos para aquilo. Daquele bocadinho fico com a certeza que uma discussão está viciada quando o moderador é obviamente parcial, que o pessoal que estava a defender o SIM tem nervos de aço e paciência de job e que o lado do NÃO não foi ali esgrimir argumentos, foram tentar humilhar e ridicularizar os outros e acabaram a fazer uma triste figura. 
  • Ainda sobre os PeC fica a resposta ao eterno "não humanizemos os animais" : "não infantilizemos os portugueses"
  • E só para acabar com os PeC, a quem ficou muito chocado quando o humorista referiu que os gatos comem as baratas devo dizer que a última vez que vi uma barata dentro de um café foi dentro de um croissant e que o empregado não ficou minimamente preocupado.
  • Já não suporto futebol. Os debates, as guerras, as discussões, os insultos. NOJO
  • Tento não pensar muito na questão Síria. Não sei como ajudar, não sei o que fazer e partilhar frases feitas dizendo que não se fala o suficiente no assunto (ficando assim de consciência tranquila) não é para mim. O que eu queria mesmo era saber que a forma certa de ajudar é contribuir para a Cruz Vermelha ou se há alguma associação humanitária que está a conseguir lá chegar.
  • Não é que tivesse esperança que o AG conseguisse mudar a minha opinião sobre a ONU mas... a desilusão tem sido grande mesmo assim.
  • Vem aí o dia internacional da mulher e vejo-me sem a menor vontade de falar sequer no assunto. Sinto uma regressão tão grande na sociedade em relação e este e outros assuntos que começo a fazer minha a frase da Mafaldinha:

 

Parem o Mundo que quero sair