Vergonha, assombro, espanto, respeito!
A banalidade com que se pega numa arma e se tira uma vida deixa-me estarrecida. O respeito pela vida nunca foi grande coisa ao longo da história da humanidade mas era suposto que tivéssemos evoluído. Os factos são gritantes. Não só não evoluímos como nem sequer estagnámos. A facilidade com que despersonalizamos os outros, nos sentimos superiores e como tal, sancionamos a sua morte, o seu extermínio é impressionante.
Para o bem e para o mal, os Estados Unidos da América são o nosso espelho. E são aquele de quem esperamos os piores exemplos. Por isso, o movimento encabeçado por miúdos que se recusam a ser apenas vítimas da violência são um sinal para todo o mundo.
Estes miúdos dão-me esperança para o futuro. Num mundo em que os adultos lhes falharam, que está minado por corrupção e displicência,que está nas mãos de grupos cujos interesses colidem com a própria definição de humanidade, decidiram agarrar no futuro com as próprias mãos.
Vejo tantos olhá-los com orgulho. Eu sinceramente não consigo olhar para eles com orgulho porque isso quase implica que eles são o resultado do nosso trabalho. Não são. São o resultado de uma degradação a que nós deixámos o mundo chegar. Eu olho para eles com vergonha, assombro, espanto, respeito.
Vergonha, porque deixámos, com as nossas acções ou as nossas inacções, o mundo chegar a este ponto. Assombro, porque fico maravilhada por miúdos terem a coragem de gritar contra o poder instituído. Espanto, pela forma como conseguem mobilizar. Respeito, por transformarem a dor, o sofrimento, em poder. E por usarem esse poder para algo positivo.
E medo. Medo que tento afastar da mente. Medo deles não conseguirem ganhar. Medo deles se deixarem consumir. Medo deles se transformarem naquilo contra o qual lutam. Mas ainda assim com esperança. E confiança. Confiança na sua convicção, na sua coragem. Que eles triunfem e transformem o mundo num lugar mais digno.