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Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

da diferença entre liberdade de expressão e de acção

29.01.18, P.

Hoje venho tentar pôr em palavras algo que me anda a incomodar um bocado e que tenho alguma dificuldade em expor de forma clara.

Comecemos este exercício por imaginar uma qualquer polémica (não é difícil, pois não?) que incendeia as redes sociais.

Das redes sociais, a coisa salta para a TV, da TV para todas as pessoas que, estando nas redes sociais, ainda não tinham comentado a questão.

Ora, como as redes sociais são um reflexo da sociedade (mas ainda mais reivindicativos) há nestas uma igual quota parte de gente parva.

Até aqui nada de estranho.  A globalização e a facilidade de informação faz com que pouco ou nada passe despercebido. É positivo que a sociedade civil tenha uma palavra a dizer e seja opinativa. O problema vem, na minha opinião, depois.

Começa a ser normal que as autoridades, seja sob a forma de associações, comissões, várias “autoridades”, assembleia da republica ou até o ministério público resolvam agir. A maioria destas acções são, ou parecem ser, precipitadas. Estas acções parecem ser consequência directa das reclamações da sociedade civil.

Depois é a loucura. Deixa de se discutir a questão e passa a discutir-se a força das redes sociais, a parvoíce das redes sociais, o poder das redes sociais. Passa a discutir-se a democracia (o que seria positivo se não fosse tantas vezes trágico). Põe-se em causa a legitimidade da emissão das opiniões e das reivindicações. Põe-se em causa a liberdade de expressão.

Ora, dando um passo atrás, eu não quero limitar a liberdade de expressão de ninguém. Eu quero ter a liberdade de me insurgir e de, no Twitter ou no Facebook, dizer meia dúzia de parvoíces, ser chamada à razão, ouvir outros argumentos, desabafar.

Eu não quero que, por causa das minhas opiniões infundadas, de leiga, sejam tomadas decisões imponderadas. Quero, enquanto membro da sociedade civil, contribuir para uma discussão, dar o meu contributo à democracia. Não quero ser parte do problema.

É importante que a opinião publica seja ouvida e levada em conta. É igualmente importante que quem toma decisões, o faça sem medos e sem constrangimentos e com base em factos e argumentos válidos.

Calar a turba não é, sequer, uma possibilidade válida hoje em dia. Ter medo dela, agir a “toque de caixa” ou às mãos dos utilizadores das redes sociais também não deveria ser.

Uma das consequências de tudo isto é que as opiniões ponderadas cada vez têm menos espaço nas redes sociais – e como tal nestas decisões de que falo -seja porque os ponderados cada vez se afastam mais, seja por não estarem na moda. Todos nós sabemos que não são as opiniões ponderadas que chegam longe, que são discutidas, rebatidas, comentadas. São as parvoíces, são os extremismos, que são aclamados, difundidos.  Aliás, as opiniões ponderadas são, na sua maioria, massacradas nas redes sociais que vivem do “ou és por mim ou contra mim”. Basta conhecer um bocadinho da essência das redes sociais para não as levar completamente a sério. São excelentes para estar dentro de todos os assuntos, mas é necessário um enorme trabalho de separação do trigo e do joio para dali retirar o que de positivo elas têm.

Feminismo bom, feminismo mau

15.01.18, P.

Portugal, Mundo, 2018. O feminismo está na ordem do dia e todos, todos, defendem que o seu é o bom. Depois há o outro.

Acho que devo começar este post com um disclamer: eu defendo a igualdade de género, a violação é crime.

Pronto, disclamer feito, posso começar a criticar e vou ter toda a razão do meu lado, porque já disse e ficou registado: eu defendo o tipo de feminismo certo.

E agora posso atacar essas feministas histéricas, extremistas, que querem à força direitos, essa coisa estranha. E que se me criticarem, estão a tentar acabar com o meu direito à liberdade de expressão, de opinião (mas nunca se esqueçam que eu sou feminista, e das feministas que defende o feminismo certo).

E se está na constituição que todos têm direitos iguais, que mais querem? Já está consagrado na lei. Os direitos são iguais para todos. Ai que chatas, essa mania de mulheres e homens ganham salários diferentes para trabalhos iguais, essa mania que violência doméstica pende sempre para o lado feminino. Olhem, até conheço um homem, que ganha menos que a mulher e outro que já levou um estalo da mulher (que choninhas, pá, então mas o gajo deixa que a tipa lhe dê um estalo?). Pronto, está provado. Não é preciso essa coisa do feminismo, que é cena de histéricas nas redes sociais. Mas eu não sou machista, que cá para mim são todos iguais. Há muito homem que também é feminista histérica. Viram? Eu defendo o feminismo certo. São todos iguais.

Pronto, agora a sério. Sim, eu sou feminista mas não desse género de feminismo que precisa de se vestir de negro e vai buscar cenas ao passado. Não podemos antes fazer um ponto e zero e dizer: daqui para a frente é que é, já não há cá mãozinhas, nem bocas, nem pilas onde não devem estar? Agora mudar as regras a meio do jogo, fica mal, estraga vidas e ninguém aqui quer estragar vidas, pois não? Somos todos iguais.

Ficamos combinados, então? Defendemos o feminismo certo, mas baixinho, assim como fica bem às mulheres. Ladies, a malta quer é ladies (e se querem falar das putas na cama, só vos digo, que essas, essas, tiveram sorte e subiram na carreira. E agora queixam-se. putas, pá).

Retomamos a programação habitual

08.01.18, P.

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Pronto, este blog já voltou a ser seguro. Depois da loucura do post anterior (assusto-me sempre quando isto acontece - e isto acontece quando o Sapo, por qualquer motivo, resolve destacar um post) regressámos à paz que por aqui costuma reinar. 

Este país, este mundo, não é para velhos

04.01.18, P.

Passo os olhos pelas notícias e vejo que este ano o irs só pode ser entregue em formato electrónico. Não duvido que a maioria das pessoas da minha geração, ao ver essa notícia, pensa algo do género “ora até que enfim, no mundo online em que vivemos nem faz sentido outra coisa”. Eu, desde que comecei a minha carreira contributiva, só entrego o irs assim, via electrónica. Não sei o que é ir para as finanças entregar papéis, acho uma perda de tempo ter que ir pessoalmente fazer coisas que podem perfeitamente ser feitas através da internet.

Mas ainda assim esta notícia deixa-me com um nó na garganta porque sei que é mais uma machadada na autonomia de tanta gente.

Num país, num mundo, onde os mais velhos são um dos pilares da sociedade – temos a tendência a falar dos pensionistas como um cargo para o estado esquecendo, não só o contributo que sempre deram para construir a sociedade que temos, como o património que têm assim como o suporte que dão a filhos e netos que não ganham o suficiente para as suas necessidades.  Ora boa parte destes pensionistas têm a sua rotina e o controlo das suas vidas – e isso inclui fazer e entregar o irs.

Podem dizer-me que “os filhos e netos que os ajudem” e sim, é muito importante darmos apoio aos nossos velhos, ajudarmo-los a viver num mundo que todos os dias lhes é roubado porque a parte a que não conseguem aceder – a virtual – lhes está vedada. Está-lhes vedada, não por culpa ou escolha deles mas porque a idade já não lhes permite aprender o suficiente para tal.

Podia agora falar do fecho dos correios que vai obrigar a que estes velhos sejam obrigados a deixar de ir receber a sua pensão pessoalmente – e que lhes vai retirar autonomia.

Podia falar de todos aqueles que não sendo velhos, nem reformados, não têm apetência para a informática, para as virtualidades e que vão ter que pagar a quem lhes faça isto – e que não tendo dinheiro vão acabar por escolher contabilistas e solicitadores de vão de escada que, com ou sem intenção, os vão enganar.

Podia falar de tantas coisas que me tenho apercebido nos últimos tempos e que me leva a acreditar no título deste post. Este país, este mundo, não é para velhos.

expectativas

02.01.18, P.

Gerir as nossas expectativas é sempre difícil. Quando esperamos demasiado de um livro, de um filme, de alguém, corremos o risco de perder o melhor que ali existe porque estamos à procura de mais. Muitas vezes nem sequer estamos à procura de melhor, estamos simplesmente à procura de mais, de algo diferente.

Aconteceu-me demasiadas vezes. Ainda acontece, para dizer a verdade. Desiludirmo-nos é uma das coisas que mais entristece. Pior que isso é desiludirmos os outros.

Quantos erros não cometemos porque, ao tentar desesperadamente atingir as expectativas daqueles de quem gostamos, nos perdemos de nós mesmo e nos estatelamos ao comprido? 

Eis uma aprendizagem que me tem sido difícil: controlar as expectativas, agir ou falar sem ter em conta aquilo que esperam de mim, mesmo que isso me traga dissabores, mesmo que isso sirva de um filtro não desejado.

Por vezes preciso controlar a minha impulsividade e dar espaço aos outros. 

Lembro-me muitas vezes da oração da serenidade que tento pôr em prática em muitas versões da minha vida, principalmente no que às expectativas dos outros diz respeito.

Que tenha a  Serenidade
para aceitar as coisas que não posso modificar,
Coragem para modificar aquelas que posso
e Sabedoria para reconhecer a diferença.

Tenho uma amiga que põe isto de uma forma que adoro. Segundo ela  (mau-feitio que só visto) as expectivas dos outros gerem-se com a política do cornetto: "quem não gosta, não gosta, quem gosta, gosta sempre". O CR no euro também pôs as coisas de uma forma um tanto ou quanto crua mas perfeita: que sa foda.

Bom 2018 para todos