Reciprocidade
"Nunca mais ligaste nem disseste nada"
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Engraçado, não tinha nenhuma chamada perdida tua. Talvez esteja na hora de trocar o telemóvel.
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"Nunca mais ligaste nem disseste nada"
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Engraçado, não tinha nenhuma chamada perdida tua. Talvez esteja na hora de trocar o telemóvel.
Eu compreendo que se explique às crianças a morte de uma maneira algo romântica como "a avó agora é uma estrelinha no céu". Não concordo mas compreendo.
Agora homens e mulheres adultos a escreverem no facebook (e afins) "agora tenho mais uma estrelinha no céu a olhar por nós"? A sério?
Tenho sempre a sensação de que estão a destinar aquelas pessoas ao Inferno (6º círculo, no inferno de Dante)
Não sei qual é o contrário de machismo. Machismo é, por definição, a ideologia que defende que o homem é socialmente superior à Mulher. Ora, como feminismo não defende a superioridade da mulher em relação ao homem, então o feminismo Não é o contrário de machismo.
O que hoje li, num site que se assume como feminista e tem, efectivamente, tido um papel importante na luta pela igualdade de direitos, chocou-me. Não pelo conteúdo porque, apesar de não concordar e de me parecer uma imbecilidade, sou a favor da liberdade de expressão – independentemente do texto ser ou não um reflexo da minha opinião.
O que me chocou foi mesmo aquele texto ser publicado naquela plataforma por ser, do meu ponto de vista, tão discrepante dos valores que supostamente difundem. Aquele post mostra um bocadinho do que é o contrário do machismo. E eu sei que não feminismo.
Depois chocou-me a tentativa de demarcação, do grupo responsável pelo site, em relação ao conteúdo. Das duas uma, ou assumem que sancionaram o texto, aceitando o seu conteúdo e considerando-o relevante e de acordo com os valores que pretendem transmitir ou assumem que são uma plataforma de discussão de várias ideias e que é cada um por si – e aí não podem assumir que são uma plataforma feminista. E não o podem fazer porque este texto marcou um retrocesso na luta pela igualdade e destruiu a credibilidade que tinham.
O que me lixa é que passo boa parte do tempo a dizer que ser feminista não é ser contra os homens, é lutar pela igualdade de direitos, deveres e oportunidades de todos, Homens e Mulheres e agora tenho que ainda acrescentar que sim, sei que há quem se auto-denomine feminista e seja antes uma imbecil radical.
(e não há cá links nem publicidade para ninguém, se não sabem do que estou a falar, ignorem, ficam muito mais felizes)
Fico muitas vezes agoniada quando vou ao facebook. Há pessoas a destilar veneno que dá dó (tenho sempre pena das pessoas que não sabem fazer outra coisa, devem ser muito infelizes, coitadinhas), há garotos (e menos garotos, e desses também tenho pena, coitadinhos, devem ser muito infelizes) a serem mal educados de uma maneira que penso sempre que deviam ser filhos da minha mãe só alguns dias, há parvoíce em barda. E penso sempre que devia sair dali, fechar a conta e tornar-me info-excluída. Mas depois penso que sem as redes sociais (não as culpo das parvoíces, cada um é livre de lá ser o que bem entende) não iria saber de quem me afastar definitivamente, não saberia que aquelas pessoas são tão negras por dentro, tão estúpidas por fora e tão burras... Senhores, há gente burra que dói.
As redes sociais não criam energúmenos. Mas ajudam a expô-los.
Salvador Sobral ganhou-nos a Eurovisão com uma música cantada em português e sem fogo-de-artifício. Numa noite em que se devia celebrar a diversidade a maioria das músicas foram cantadas em inglês o que significou que boa parte da população desses países não foi representada. Dir-me-ão vocês que o Salvador provou que não é necessário perceber a letra para gostar da música e eu respondo-vos que o que Salvador provou foi que cantar com amor e em nome próprio ainda (tem dias) vale a pena.
Na noite em que o miúdo que canta "Amar pelos dois" se apurou para a Eurovisão li uma série de comentários no Twitter (adoro seguir estas cenas no twitter) de miúdos (só se lhes perdoa pela idade) a "chorar" que íamos ser diferentes dos outros e que não cantando em inglês, não sendo igual aos outros, íamos perder outra vez. Espero que esta vitória sirva, ao menos, para fazer este miúdos, para fazer-nos a todos, pensar no que queremos para a nossa identidade. Nada contra cantores portugueses cantarem em inglês se assim o desejarem. Tudo contra cantores portugueses cantarem em inglês porque acham que só assim têm sucesso.
Uma música deve expressar a identidade, o talento, a arte, os sentimentos de quem canta. Não pode, não deve, ser apenas um negócio.
Não tenho ilusões e sei que isto vai mudar nada, ou pouco. Os concursos televisivos vão continuar a ter maioritariamente concorrentes que desprezam a língua portuguesa. As rádios vão continuar a passar pouca música portuguesa e a que passam é escolhida a dedo. Eu vou continuar a não fazer parte da maioria e vou continuar a ser a pessoa estranha que gosta de ouvir música em português e que gosta de ouvir os poemas das músicas (talvez por isso tenha sido das poucas pessoas a ficar feliz com o prémio nobel da literatura dado a Bob Dylan). Mas talvez alguns miúdos queiram ser como o Salvador e a Luísa e ousem ser originais.
Diversidade e identidade.
Estou cansada. Daquele género de cansaço que se entranha e nos tolhe os movimentos. Não preciso procurar razões, sei-as bem. E o objectivo é fazer de Scarlett O'Hara e só me preocupar com isso amanhã. Ou depois. Ou nunca. A verdade é que preocupar-me não faz diferença nenhuma excepto neste cansaço. Também é verdade que já foi pior. Bem pior. Agora tem dias. Não se preocupem, não estou a morrer. Quer dizer estou, eu tal como vocês, não sei é a que velocidade. Essa morte não é coisa que, neste momento, me tire o sono. No outro dia tentava explicar ao meu marido o que é viver dentro da minha cabeça. Não sei bem se naquele dia ele ficou com pena de mim ou arrependido de se ter casado com alguém tão "screwed up" como eu. Sabem aquela pergunta típica e enjoativa dos apaixonados "O que estás a pensar?"? a verdade é que sempre gostei de a fazer mas não para receber uma resposta enjoativa de "estou a pensar em ti". Gostava um dia de receber uma resposta do género "epá, agora tou a olhar para os teus olhos a pensar que até são giros mas em segundo plano estava a pensar como raio vou acabar aquele projecto de que te falei mas assim que fizeste a pergunta comecei a pensar em que resposta seria mais adequada..." enfim, isto acabaria com qualquer réstia de romantismo que restasse mas a verdade é que tenho sempre a sensação que estou a pensar em mil coisas ao mesmo tempo, eu sou uma pessoa estranha, eu sei, e quando estou muito cansada a coisa fica exponencialmente pior.
Terminar pelo menos uma das tardes desta semana numa esplanada desta cidade, eu e um livro, quiçá algum amigo. Uma limodada com hortelã se estiver calor, um chá de ervas se estiver frio. Se chover pode ser o mesmo num café com vista para a chuva. Duas horas, nem sequer peço muito. E o telefone desligado.
Ora, no sofá cabemos os três, às vezes não se sabe bem de quem é aquela perna mas algures por ali há um gato. Geralmente o gato está no meu colo. Mas assim que ele se levanta, o gato salta do meu colo (ou de onde quer que esteja deitado), aninha-se por depressa no lugar que ele deixou vago e finge estar a dormir. Juro. Chega a esconder a cabeça nas patas e fechar os olhos. Ou fica na posição de esfinge, de olhos fechados. 15 segundo é o tempo que o meu gato leva a ocupar, à descarada, o lugar de onde ele se acabou de levantar e assim que ele volta ainda o olha com ar ofendido como que a dizer "então, eu estava aqui!!!".
Eu percebo que não acreditem mas isto acontece TODOS os dias. Às vezes mais do que uma vez por dia.
O trágico é que ele volta, aninha-se em mim e o gato todo poderoso fica a dormir refastelado à vontade. Meio sofá para o gato, meio sofá para nós.
Oh, well, story of my live.
(um dia conto-vos como foi ouvir a fera rosnar à senhora que que vem cá a casa fazer umas limpezas...)
Não sou das pessoas com o sentido de humor mais apurado. Não gosto de 90% das comédias, não tenho jeito para contar anedotas nem sou especialmente fã de tal (excepto de piadas secas - adoro) e o humor de que mais gosto é o negro.
Mas se há coisa que me tira do sério é esta mania de que tudo é permitido ao humor e que eu também tenho que achar piada. Sim, defendo que estão à vontade para dizer todas as parvoíces e asneiradas com as quais eu não concordo mas não me venham com merdas e com a célebre "ai, que sensível, estava a brincar, não tens nenhum género de sentido de humor". Até porque chamarem-me "sensível" faz com que "veja tudo negro à minha frente" e tenha que fazer um mega esforço para me controlar o que se torna completamente incompatível com o sentido de humor.
O grande problema é que as piadas/textos/opiniões que antecedem esta frase são geralmente de teor misógino, homofóbico ou racista, que são coisas que geralmente me dão urticária mental.
Além disso acho absolutamente desonesto intelectualmente a falta de opção na reacção. É que ou achas piada e "és do grupo" ou estás tramada. Se ficas calada (por achares que toda a gente tem o direito de ser imbecil) és uma "enjoadinha que não acha piada a nada". Se respondes ou te começam a explicar que "és tão sensível, estava a brincar, não tens nenhum género de sentido de humor" ou embarcas numa discussão absolutamente surreal que acaba com um "és tão sensível, estava a brincar, não tens nenhum género de sentido de humor".
E sim, acabei de ler um texto absolutamente misógino mas foi escrito por um humorista. Se tivesse sido escrito por qualquer outra pessoa ainda era possível argumentar mas assim não vale a pena porque a ideia geral é que não se está a transmitir e propagar uma ideia misógina, está-se apenas a "fazer humor".