Sou uma privilegiada. A principal razão para isso é pura sorte. Não tem (quase) nada a ver com trabalho, esforço, talento ou dedicação. É verdade que trabalho que me desunho, me esforço (quase) todos os dias, que tenho jeito para o que faço e que me dedico a 90% (as pessoas que se dedicam a 110% são só más a matemática, ok? ah e guardo os 100% para as cenas que são realmente, realmente importantes). Mas há milhares de pessoas que trabalham tanto ou mais que eu, que se esforçam imenso, que têm um talento brutal e que se dedicam a 91%. Só que não têm tanta sorte como eu.
Eu explico, eu estava na faculdade à procura de estágio quando uma empresa pediu à dita faculdade alunos para irem lá a uma entrevista. Por sorte eu ainda não tinha arranjado estágio e por sorte a professora mandou o meu CV juntamente com outros. Por sorte fui àquela entrevista. Também por sorte uma funcionária tinha-se despedido uns dias antes e a entrevista (inicialmente para contratar 2 pessoas) passou a ser para contratar 3. E eu, como miúda inconsciente que era, disse na entrevista que queria muito aquele terceiro lugar (porque os outros 2 eram secantes - isto não disse, não sou assim tão estúpida). Por sorte acharam-me piada e fiquei com o lugar. E o resto é história.
Mas o que queria mesmo contar é que quando para lá entrei (para fazer estágio, lembram-se? e dos não remunerados) me disseram: "olha, isto só é um estágio porque nestes 3 meses vais mesmo aprender, ok? Não faças merda e tens 2 contratos de 9 meses e posterior entrada para os quadros assegurados. É que vai dar trabalho ensinar-te e não queremos ter que passar pelo mesmo outra vez". (pronto, não foi exatamente assim, a palavra merda não foi utilizada... pelo menos nessa altura).
Nunca tive um dia de trabalho precário na minha vida. E sim, sou boa no que faço mas foi principalmente por sorte. Essa filha da puta para tantos.
E portanto não consigo perceber como alguém acha normal que alguém tenha um trabalho precário, nem que diga que de futuro todos os trabalhos vão ser "precários". Nem que ache aceitável que haja falsos recibos verdes onde quer que seja, privado ou público. Não aceito que se discuta tostões em relação ao ridículo salário mínimo que temos.
Não aceito que se fale de "confiança" como se isso fosse um privilégio ridículo.