Um homem, nos EUA matou 49 pessoas e feriu mais de 50 no domingo na discoteca Pulse. Ao contrário do que se passou aquando do ataque no Bataclan, estas vítimas foram poucos humanizadas, foram mais números que palavras. Pelo menos por cá, por esta Europa que vive intensamente o Europeu de futebol. É verdade que não tenho tido muito tempo para ver televisão mas sempre que a ligo está a dar futebol, estão a analisar futebol, a fazer previsões sobre futebol, a viver futebol.
49 pessoas morreram, mais de 50 ficaram feridas.
Não sei quantas dessas pessoas eram homossexuais mas o ataque deu-se numa discoteca gay e isso dividiu opiniões. O “puseram-se a jeito” do costume assume aqui contornos de homofobia (será que surpreende alguém que quem é capaz de dizer que jornalistas ou humoristas se “puseram a jeito” seja homofóbico?). Não consigo deixar de me questionar se, por cá, se teria falado mais do assunto se o ataque tivesse sido noutro sítio qualquer onde a orientação sexual das vítimas não fosse uma questão.
Porque a verdade é que o é. É-o para os homofóbicos, é-o para a comunidade LGBT e para os seus apoiantes, é-o para todos os que evitam dizer que o ataque foi numa discoteca gay ou dos que referem especificamente que “não interessa a orientação sexual de cada um, foram 49 pessoas que morreram…”.
E tenho visto críticas por todos os lados. E raios, isto, isto assusta-me mais do que qualquer outra coisa. A inércia. A passividade. A desunião.
Porque uns falam de homofobia, outros não. E esta divisão, nós e eles, nós e eles. Qualquer que seja a perspetiva em que olhemos esta questão, há sempre o “nós e eles” e por uma vez, o “nós” e “eles” não são os dois lados das armas, são os que não usam as mesmas palavras. O nosso lado partiu-se, dividiu-se. E isso é um erro crasso. Sair-nos-á caro.
49 pessoas morreram, mais de 50 ficaram feridas. Porque uma besta resolveu pegar numa arma e atirar indiscriminadamente sobre um grupo de pessoas que se estava a divertir.