Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

A Alma de Lisboa

12.04.16, P.

Quando cheguei a Lisboa, vinda do Sul do País, tive um choque. Achei Lisboa velha e suja. Linda à sua forma, com museus, vida e História mas suja, decadente. E eu, lamento, não consigo ver romantismo na decadência. 

Quando tentei ir viver para Lisboa percebi que não tinha dinheiro para isso. Tudo o que eu podia pagar era miserável, ninguém passava uma fatura e quando me tentaram impingir uma casa sem cozinha (?!!!) desisti. Prefiro votar noutro concelho a ter que viver em condições miseráveis. Por isso, Lisboa nunca foi minha. 

Talvez nem tenha o direito a opinar sobre a Alma Lisboeta, essa que está a ser "vendida" a preço de saldo aos turistas, essa que que está a ser reclamada pelos Lisboetas tão ofendidos pelo turista.  E eu, que não sou Lisboeta de coração, nascimento ou ocasião, talvez não tenha o direito a opinar.

Tenho ouvido inúmeros argumentos acerca de "venda da alma Lisboeta" e até concordo com alguns. É verdade que é triste ver lojas típicas (carinho especial pelos alfarrabistas), restaurantes e afins a terem que fechar, mudar de sítio e serem substituídos por marcas estrangeiras, cadeias de fast-food  e afins (mas confesso que me preocupam mais as lojas dos chineses por esse país fora). Sim, é triste. É verdade que este crescimento exponencial (e todos sabemos quais os fatores que nele estão incluídos) não é garante de futuro, que não é (ainda) sustentável.

Sim, o crescimento deve ser feito de forma sustentável, as pessoas devem ser protegidas e não escorraçadas (aqui como em qualquer outro ponto do país) e cabe aos Lisboetas lutarem pela sua cidade.

Mas o argumento que acabou comigo foi este: 

"Lisboa é atraente porquê? Porque é bonita, claro. Mas também porque tem, por enquanto, coisas ainda não “descobertas”. Porque está bastante decadente. Porque é altamente “instagramável”. Porque, finalmente, é um sítio amigável, porque há muito para comer, porque é barata, porque é relativamente pequena e porque, nos seus elementos básicos, pode ser vista em 2 ou 3 dias."

(Observador, Lucy Pepper, 10/04/2016)

A decadência de Lisboa e a ideia de que as melhores fotos são da miséria (espero que se tirarem fotos a um sem-abrigo ao menos tenham a decência de lhe pagar por isso) é, para mim, absolutamente estranha.

A minha tribo

11.04.16, P.

Sempre vivi entre o campo e cidade, saltitando com facilidade entre um e outro grupo. Na verdade esta facilidade era, por vezes, esforçada, fabricada, pouco natural. Sempre me senti parte da tribo mas não completamente. Percebem o que quero dizer?

Na aldeia era meio estranha, ouvia música um bocadinho diferente, achava que tinha direito ao mesmo que os rapazes (e felizmente a minha mãe também), gostava de andar de skate e patins, lia livros e jogava às cartas e ao berlinde. Na cidade era meio estranha, vivia longe da família, tinha liberdade e nunca estava disponível nas férias e nos fins de semana – ia para a aldeia. E claro, ouvia música um bocadinho diferente, achava que tinha direito ao mesmo que os rapazes, conhecia todos os cães da vizinhança (apesar de não conhecer os vizinhos) e lia livros.

Na aldeia não tinha biblioteca, exceto a da minha casa, na cidade, era das poucas que frequentava a biblioteca, onde rapidamente deixaram de me tentar orientar nas leituras (tentavam, de início, que as crianças lessem o que era adequado à sua idade – comigo isso durou cerca de 2 semanas).

Ainda hoje me sinto assim, estranha mesmo onde pertenço e precisei de chegar à idade adulta para encontrar a minha tribo, cheia de pessoas diferentes, vindas de todo o mundo, que falam a mesma língua que eu. Pessoas com quem consigo ser eu, esta mistura de serra, mar e cidade e continuar a ser meio estranha e isso, finalmente, não ser nada estranho.

Mas como é que deixam passar estas coisas? Triagem, pls.

08.04.16, P.

Acabo sempre a questionar a inteligência desta gente. Falando apenas dos últimos casos, sou só eu que vi, imediatamente, que os casos do cartaz do BE, do João Soares e Joana Vasconcelos tinham TUDO para dar errado?

Meus caros,

Really? Associar uma imagem religiosa à adoção por casais homossexuais, ameaçar bater em alguém no facebook ou fazer um vídeo completamente egocêntrico… é óbvio que não funciona.

A minha questão é: nenhum destes personagens tem um assessor, um amigo, um empregado, o raio do operador de câmara, a malta que cola os cartazes, sei lá eu, que lhes digam: “NÃO, isso vai dar merda”?

Já que a vossa autocensura não funciona, paguem-me, que eu faço isso por vocês e não deixo que façam figuras tristes (exceto para o JS, não tenho pachorra para o tipo) e que estraguem campanhas maravilhosas e importante desviando a atenção para a v/ parvoíce. Porque vocês têm todo o direito a ser estúpidos, parvos, vazios, desinteressantes. Mas não deviam ter o direito de estragar o trabalho e o esforço dos outros, de dar meia dúzia de tiros nos pés das pessoas que vos escolheram para dar a cara por uma causa importante. A sério, autocensura.

 

A sério, mandem-me um mailito a dizer "P. quais são os perigos de dizer isto na internet?", se eu não conseguir descobrir o perigo não cobro nada. Mas aviso já que preço e estupidez têm uma relação de proporcionalidade direta.

 

Hipocrisia ou boa-acção?

05.04.16, P.

Velha dos gatos.jpg

 

Fingir dar atenção a alguém para quem não temos a menor pachorra (nem é não gostar, é apenas não ter paciência para) só porque tenho a certeza que esses 5 minutos não me vão fazer falta e para essa pessoa vão ser importantes faz de mim hipócrita ou boa pessoa?

 

(não ter empatia com ninguém no local de trabalho – e desconfio que na vida – deve ser  a coisa mais triste do mundo)

Pág. 2/2