A Alma de Lisboa
Quando cheguei a Lisboa, vinda do Sul do País, tive um choque. Achei Lisboa velha e suja. Linda à sua forma, com museus, vida e História mas suja, decadente. E eu, lamento, não consigo ver romantismo na decadência.
Quando tentei ir viver para Lisboa percebi que não tinha dinheiro para isso. Tudo o que eu podia pagar era miserável, ninguém passava uma fatura e quando me tentaram impingir uma casa sem cozinha (?!!!) desisti. Prefiro votar noutro concelho a ter que viver em condições miseráveis. Por isso, Lisboa nunca foi minha.
Talvez nem tenha o direito a opinar sobre a Alma Lisboeta, essa que está a ser "vendida" a preço de saldo aos turistas, essa que que está a ser reclamada pelos Lisboetas tão ofendidos pelo turista. E eu, que não sou Lisboeta de coração, nascimento ou ocasião, talvez não tenha o direito a opinar.
Tenho ouvido inúmeros argumentos acerca de "venda da alma Lisboeta" e até concordo com alguns. É verdade que é triste ver lojas típicas (carinho especial pelos alfarrabistas), restaurantes e afins a terem que fechar, mudar de sítio e serem substituídos por marcas estrangeiras, cadeias de fast-food e afins (mas confesso que me preocupam mais as lojas dos chineses por esse país fora). Sim, é triste. É verdade que este crescimento exponencial (e todos sabemos quais os fatores que nele estão incluídos) não é garante de futuro, que não é (ainda) sustentável.
Sim, o crescimento deve ser feito de forma sustentável, as pessoas devem ser protegidas e não escorraçadas (aqui como em qualquer outro ponto do país) e cabe aos Lisboetas lutarem pela sua cidade.
Mas o argumento que acabou comigo foi este:
"Lisboa é atraente porquê? Porque é bonita, claro. Mas também porque tem, por enquanto, coisas ainda não “descobertas”. Porque está bastante decadente. Porque é altamente “instagramável”. Porque, finalmente, é um sítio amigável, porque há muito para comer, porque é barata, porque é relativamente pequena e porque, nos seus elementos básicos, pode ser vista em 2 ou 3 dias."
(Observador, Lucy Pepper, 10/04/2016)
A decadência de Lisboa e a ideia de que as melhores fotos são da miséria (espero que se tirarem fotos a um sem-abrigo ao menos tenham a decência de lhe pagar por isso) é, para mim, absolutamente estranha.