Passei anos a ser a "maluca" por achar que o dia internacional da mulher não era para comemorar.
Ainda na adolescência e do alto das minhas certezas e privilégios, já tinha a sensação que não fazia sentido, sentia-me até um bocadinho ultrajada por existir tal dia e com a certeza de que algo estava errado. Achava, na altura, que era por não haver um Dia Internacional do Homem e as loucuras e celebrações que estavam na moda davam-me alguma (muita, vá) vergonha alheia.
Fui crescendo e comecei a aperceber-me que tinha e não tinha razão. Tinha, é ultrajante que haja um dia Internacional da Mulher. Não tinha, esse dia é, ainda e infelizmente, extremamente necessário.
Fui durante muito tempo, voz única entre os meus. Fico feliz (ou não, dependendo do ponto de vista) pela minha voz se perder entre tantas vozes que hoje já gritam bem alto que este dia é um dia importante e triste. Extremamente triste. E com uma pontinha de alegria e orgulho por tudo o que já conquistámos.
Comecei a aperceber-me da importância do dia internacional da mulher enquanto lia. E comecei a olhar à volta. Comecei a conhecer pessoas, amigas até, que sofriam e sofrem de violência doméstica. Percebi que há meninas violadas porque sim. Que há meninas mutiladas porque sim. Que a mutilaçao genital feminina é uma realidade (e que este nome sonante mostra uma realidade que está para além das palavras). Mais tarde, bem mais tarde, percebi que mesmo na nossa sociedade ainda há muito caminho a percorrer.
Há umas semanas correu pelo facebook um vídeo de um anúncio que foi saudado por inúmeros mulheres e que fazia a apologia do homem ajudar nas tarefas da casa. Partilhei-o com a frase "o problema é a palavra AJUDA". Quase não tive reações (bem hajam a alguns homens que perceberam exactamente onde queria chegar). Mas (mais) uma foto do meu gato não passa despercebida.
E neste dia internacional da mulher fiquei sem saber o que fazer. Não me apetece pregar aos peixes, nem aos parvos. Ando descrente nas gentes e nas mulheres e nos homens. E assim, quando ontem, me ofereceram uma flor, engoli em seco, agradeci e deixei-a em cima da mesa toda a noite. Vai durar pouco mas vou-me lembrar que foi uma mulher quem ma ofereceu. E também me vou lembrar que o meu marido, amor da minha vida, me conhece tão bem que quase entrou em pânico quando viu que me tinham oferecido a dita rosa. Ele, só ele, me restaurou a fé que um dia, homens e mulheres vão ser iguais em direitos e deveres. Porque hoje não são.