Burocracias
A quem se queixa das burocracias Portuguesas: You Know Nothing!
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A quem se queixa das burocracias Portuguesas: You Know Nothing!
Por razões profissionais o meu ano divide-se entre Verão e Inverno, que começam e acabam com as mudanças da hora (e metam na cabeça que é SEMPRE no último fim de semana COMPLETO dos meses de Março e Outubro). Mas, como qualquer LIsboeta me compreenderá, há sempre aquele dia em que o trânsito nos diz que acabou o Verão e a paz. Foi hoje, para mim. E hoje comecei também a acreditar que a crise está a dar tréguas, a moda de andar de tranportes públicos passou ou simplesmente a malta habituou-se a não ter dinheiro e a ir novamente de carro para o trabalho. Irra!
(e sim, a Lua estava maravilhosa, vi-a quando saí de casa hoje de manhã)
Não tenho falado da situações dos refugiados a não ser para dizer "é tudo tão triste". Não me apetece entrar em discussões banais e inconsequentes quando a única coisa que consigo pensar é que "porra, são pessoas". Parece-me tão surreal ser contra o acolhimento de refugiados como o é fazer manifestações de "welcome" como se estivessemos a receber uma equipa de futebol. Welcome? a sério? Depois de dias, semanas, meses a andar, depois de muros de arame farpado, depois de tiros e gás pimenta (ou mostarda ou lá o que tem sido), se me recebessem com um "welcome" e palmas acho que mandava toda a gente à merda. Parece-me um "Parabéns, ultrapassaram as provas mais difíceis, não morreram pelo caminho, podem receber o nosso aplauso". Sei lá, sinto-me uma hipócrita. Não sei como se ajuda. E não falo de dinheiro, claro. Isso é fácil. Como se resolve a situação destas pessoas? Sinceramente enojam-me igualmente os que se congratulam porque "se nem os nossos ajudamos, como vamos ajudar esses?" como os "temos que recebê-los" e que se sentem os maiores defensores dos direitos humanos porque fizeram a partilha de uma noticia no facebook. Merda para a solidariedade feita de partilhas no facebook. E só de pensar que vão ser construidos campos de refugiados que me cheiram a campos de concentração por esta Europa fora deixa-me danada. Mas não sei qual a alternativa. Raio de mundo nojento este.
Há uns tempos comprei no LIDL, esse poço de cenas estranhas, um limoeiro. Umas folhas cairam, outras resistiram estoicamente à falta de água e atenção. Estava mais ou menos convencida que a coisa não se iria dar. Hoje descobri que o limoeiro tenta desesperadamente sobreviver mas de cada vez que tem rebentos e folhinhas novas, daquelas muita giras, verde-alface, vai lá o meu gato e come-as. Cabrão. Não liga peva às outras plantas mas folhinhas bebés, tenrinhas, chama-lhes salada. (lá foi o limoeiro viver para cima do frigirífico, junto à máquina do pão. Salvo-o do Zé Gato mas vai morrer deprimido).
Estou aqui que nem posso, com uma carraspana das antigas e ainda assim estou sem me conseguir decidir a não ir à apresentação do livro do Samuel Pimenta "Os números que venceram os nomes", um miúdo (ninguém tem 25 anos!!!) que escreve livros e de quem já li um conto na colectânea "Desassossego da Liberdade".
Esta vai ser a resposta e é verdade mas também é verdade é que precisava ainda de mais férias para descansar das férias. Por outro lado a minha personalidade "viciada no trabalho" está cheia de vontade de regressar. Vá processem-me: gosto do que faço e gosto de trabalhar. Ainda não me consegui livrar do (estúpido) sentimento de culpa quando estou em casa sem fazer nada. Desta vez e para ver se aprendo de uma vez que férias são para descansar e que as mereço (teorias, teorias) estou com uma constipação das antigas, como não tinha há anos (não sou dada a doenças, nem me lembro da última vez que tive febre -acho que foi na páscoa de há uns 4 anos com a minha última amigdalite.
As férias foram boas, obrigada...
Não foram para lá de espectaculares, tive imensas coisas para fazer, compromissos familiares e (mais uma vez) a constatação de que a facilidade com que no meu trabalho digo "não" não existe na minha vida pessoal e que apesar de fazer tudo com gosto e boa vontade (sou estúpida mas não ao ponto de fazer coisas contrariada) acabo por não ter tempo para mim, para descansar, para usufruir das férias, de uns dias sem nada para fazer.
As férias foram boas, obrigada...
Mas não consigo esquecer que o mundo anda virado do avesso e como tudo o que está virado do avesso ando a ter prespectivas nada agradáveis, a ver, a ler e a ouvir coisas que me entristecem e já nem tenho vontade de discutir, de tentar mostrar o óbvio. Tenho que aceitar que não posso mudar os outros, que os meus valores não são universais e que, em último caso, a decisão continuar a ver, ler o ouvir é minha. Mas entristece-me sentir que mais um elo se quebrou e que o mundo ficou ainda mais feio. E que essa feeldade vem em grande parte de onde esperava sentir carinho, valores e altruísmo.
As férias foram boas, obrigada...
E foram mesmo. tive momentos óptimos, partilhei o meu tempo com quem amo, senti amor, carinho a potes, ri imenso, tirei fotografias, não emagreci um grama, nadei e mergulhei, falei espanhol, partilhei o meu tempo com a minha adolescente favorita, apresentei-lhe o Clube dos Poetas Mortos e ela mostrou-me que a Culpa é das Estrelas e como é entrar em todas as lojas de roupa de um centro comercial na mesma tarde e não me tornar uma assassina em série. Ainda tive tempo de pessear por uma noite branca, ir a um concerto (weeeee) e visitar Lisboa. Estive com amigos, velhos e novos, sorri e fui feliz.
A wi-fi mal funciona e estou a ter a pausa que tanto precisava. Volta e meia lá consigo saber o que se passa no mundo (basicamente por mundo leia-se "o que fica a mais de 10 metros do lugar onde estou") mas sinceramente mais valia continuar numa abençoada ignorância.
Assim como assim, enquando continuarmos a falar em "eles" e enquanto não apreendermos a verdadeira definição de "nós" o mundo continua uma merda. E digo "continua" porque a única diferença é que fomos obrigados e ver. Mas não nos devemos preocupar muito. Como é nosso hábito em breve esqueceremos e voltaremos a abrir os bailes de gala.