Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Liberdade, igualdade e fraternidade

25.08.16, P.

O burkini foi proibido nalgumas praias francesas e pelo menos num caso uma mulher foi obrigada a despir-se enquanto era vaiada e insultada (e viva à fraternidade)

Ora isto está a ser feito em nome de um fim – que as mulheres na europa tenham todas a tal Igualdade. Sou totalmente a favor deste fim. Odeio saber que existe algo como a mutilação genital feminina, odeio ver uma mulher com burqa, abaya ou afins, odeio saber que as meninas não têm os mesmos direitos dos meninos, que são subjugadas e maltratadas. Abomino que isto aconteça na europa. Podia continuar durante muito mais tempo a enumerar as situações que me entristecem, enfurecem, chocam, irritam ou levam à loucura em relação às diferenças entre mulheres e homens. E sim, existem muitas destas situações na cultura ocidental mas a situação é exponencialmente pior na cultura extremista de alguns países (propositadamente não digo Muçulmanos pois conheço vários casos onde não há qualquer diferença – em relação a nós - na forma como as mulheres são tratadas).

 

O meu problema é nos meios utilizados para chegar a este fim.

A proibição da Burka não me choca. Concordo que não deve ser permitido que uma mulher ande com a cara tapada – é uma questão de segurança.

A lei do país em questão tem que ser cumprida por todos, residentes ou visitantes, sem excepção.

O país é laico logo as escolas públicas devem ser laicas, sem demonstrações de religiosidade, sem exceções seja para quem for.

Agora a proibição do Burkini.

Há argumentos que compreendo e respeito, de parte a parte.

Por um lado, custam-me acreditar que uma mulher escolha de livre vontade ir para a praia vestida da cabeça aos pés. Acho que aquilo é feio, desconfortável e o símbolo de algo no qual não acredito e que não compreendo. Eu mais depressa deixava de ir à praia do que vestia aquilo.

Por outro lado, não gostava que obrigassem uma freira a despir o hábito se ela decidisse ir à praia com ele. Não gostava que multassem (ou obrigassem a despir) alguém por levar uma t-shirt com Maria ou Jesus ou que não deixem andar na estrada uma carrinha de um amigo meu, peregrino, que está pintada com imagens religiosas da Mãe Soberana por razões que só a ele  dizem respeito. E ainda conheço muita gente que usa lenço na cabeça. A minha própria mãe foi um bocado olhada de lado quando ficou viúva e não pôs o lenço na cabeça (depois dela a coisa entrou na moda e hoje em dia, lá na aldeia, nenhuma o usa).

Em roma sê romano?

Sim, completamente. E quem não gosta pode ir embora. Igualdade, fraternidade e liberdade.

Mas eu não admito que me digam que roupa posso usar onde quer que seja. Aliás não posso aceitar que digam a alguém para não usar minissaia porque se está a pôr a jeito a ser violada, não posso aceitar que digam a uma mulher para não usar determinados decotes ou que mandem uma mulher vestir a parte de cima do biquíni se ela decidir fazer topless. Da mesma forma que não posso aceitar que humilhem ou proíbam de ir à praia uma mulher por não estar suficientemente despida.

Leis que protegem os cidadãos, às vezes de eles mesmos, como não permitir Burkas (leia-se cara tapada), MGF ou que uma criança morra por os pais não a deixarem levar uma transfusão de sangue. Mas leis que fomentem a liberdade, a igualdade e fraternidade. Isso implica que eu possa usar um decote até ao umbigo sem que isso signifique que estou a pedir para ser violada ou que uma mulher possa usar um burkini se quiser (bora dar-lhes educação suficiente e alternativas seguras para que essa opção seja feita em total consciência e liberdade?)

Mas liberdade e igualdade significa dar aos outros a opção de escolherem algo que nós não escolheríamos e não fazer determinados juízos de valor. Exatamente aquilo que exigimos – e bem - que os outros façam. Tenho medo que nos estejamos a transformar em extremistas em vez de lutar contra os extremismos.

 A igualdade não pode ser conseguida à custa da liberdade e da fraternidade.

1 comentário

Comentar post