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Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

eu já não tenho idade para estar merdas

28.12.16, P.

Quando ouvimos dizer que alguém ganhou o euromilhões ou, como esta semana, que alguém está a ser acusado de ter desviado uns "milhõezinhos" para a conta pessoal a conversa cá em casa é sempre a mesma. 

Eu pergunto-me para que raio quer aquela gente tanto milhão. A sério, dinheiro suficiente para não ter preocupações o resto da vida, para viajar, construir uma mega-biblioteca e para ajudar os outros e a coisa estava melhor que boa. Não eram precisos muitos milhões para isso. Até porque difícilmente ia deixar de trabalhar. Provavelmente nem mudava de profissão já que adoro o que faço.

Além disso tenho outro problema. Ou tenho vários planos para as férias ou ao fim de dois dias começo a sentir-me uma inútil. Por mais que o meu lado racional (e toda a gente à minha volta) diga "trabalhaste o ano inteiro, estavas cansadíssima, aproveita para não fazer a ponta dum corno durante uma semana", isto de não ter nada para fazer bule-me com os nervos.

Quando isto me acontecia nos primeiros anos em que trabalhava, até achava normal. Era o entusiasmo de fazer o que gostava, era mais nova, não precisava de tanto descanso. Mas, porra, já tenho idade para ter juízo e para aproveitar cada minuto das férias como se fosse o último. 

ironias da vida

27.12.16, P.

Enquanto milhares choram nas redes sociais a morte de ídolos da música e do cinema, da política ou da escrita, passam reportagens sobre os idosos deixados nos hospitais. A morte nas redes sociais não cheira a morte, não cheira a doença, não cheira a velhice. 

Finalmente acabou

27.12.16, P.

Falo do The Voice PT. Foi penoso assistir às últimas galas (valha-nos a possibilidade de ver em diferido e passar à frente tudo o que não interessa - e é muito).

Eu cresci numa aldeia onde eu era a ave rara que não ouvia música pimba. Não gostava de bailaricos, só ia aos da minha aldeia. Os meus amigos não conheciam a minha música e eu não conhecia a deles. As influências familiares a nível da música eram algo peculiares porque a pessoa mais próxima de mim gostava especialmente de música clássica, coisa que não me interessava nada, pelo que a convivência músical não era fácil. Além disso sempre me interessei pelos poemas das músicas e parte do meu tempo dedicado à musica era passado a passar letras para o papel e a traduzi-las. Os meus amigos traziam-me letras de bandas que eu não conhecia para traduzir.

Depois, quando cresci mais um pouco, continuei a ser a pessoa estranha que ouvia música portuguesa, brasileira ou arrastava amigos em buscas estranhas por cd's de gente que ninguém conhecia (um amigo meu ainda fala da noite em busca do CD da KT Thunstall que ainda hoje é um dos meus favoritos e gostar de jazz é sinónimo de "estranha").

Dou e sempre dei imensa importância aos poemas das músicas (talvez por isso o Nobel da Literatura não me tenha chateado nada) e por isso dou tanta importância à música portuguesa. 

Por isso até perdoo ao the voice pt o facto de tranformarem isto num programa de coitadinhos, de tenho mais amigos que tu, os meus amigos têm mais saldo do qe tu, as miúdas gostam mais de mim do que te ti. Perdoo o facto de parte do programa rodar mais à volta dos mentores do que dos miúdos. 

Mas não perdoo o facto de 90% da música que aqui se ouve ser em Inglês. 

Chamemos passado a 2016

26.12.16, P.

Uma fase concluida. Sobrevivemos ao Natal. Confesso que acabo sempre estes dias de festa com um sentimento agridoce porque nunca é bem aquilo que eu imaginava. Mas passou-se a acabou por correr bem. Corre sempre, não é?

Esta é a semana do regresso à (quase) normalidade, às limpezas de fim de ano, ao desejo insano que este maldito ano acabe e se esfume da memória e seja apagado do tempo. Provavelmente terei anos piores que este no futuro mas sinceramente acho que 2016 foi um dos piores até agora e estou desejosa de lhe chamar "passado".

Até já...

Havemos de sobreviver

20.12.16, P.

Havemos de sobreviver à época Natalícia. Por estes lados não está a ser fácil mas acredito que daqui a uma semana a coisa acalme. Hei-de ter tempo para voltar a pegar num livro e ler, aterrar no sofá e dormir ou ver um filme, fechar os olhos sem percorrer lentamente as listas de cenas feitas e por fazer. 

Ah e espero voltar a ter tempo para vir rabiscar umas coisas por aqui...

Se não falarmos entretanto: Um Feliz Natal para todos. Pensem que passa (tudo passa) e se for preciso um copo de vinho ajuda a aquecer o ambiente. 

Natal em Aleppo

14.12.16, P.

Viver na época da informação e não saber nada. É assim que me sinto. Não transfiro responsabilidades porque sei que a informação está lá, à espera de quem a quiser ver. Está nos jornais, mesmo que num canto qualquer. Está na timeline do facebook ou do Twitter,apesar de ser difícil de encontrar entre gatinhos e futebol, porque há sempre alguém que partilha este tipo de notícias.

Viver na época da informação e olhar para o lado. Viver o Natal, falar de amor, de paz e solidariedade e olhar para o lado enquanto uma das batalhas mais sangrentas da nossa época acontece.

Viver na época da informação e aceitar a completa desumanização daquela gente. Desumanizá-los, transformá-los em números, em notas de rodapé da história e das notícias só os desculpa.

Viver na época da informação e não saber o que fazer.

 

Há dias em que não é fácil ser eu

09.12.16, P.

Ia escrever um texto acerca de como a percepção das coisas muda, de como fiquei tão ofendida quando me impediram de progredir profissionalmente por causa da idade e de como hoje percebo a razão que tinham e agradeço o terem-me livrado de me tornar numa pedante e ainda por cima má profissional. Ia também acrescentar que sempre me irritou o paternalismo com que me olhavam quando eu tinha menos 15 ou 20 anos do que tenho agora e de como me sinto a olhar alguns miúdos exactamente com o mesmo sentimento (tabefes, a vontade que tenho às vezes de desatar aos tabefes e depois penso que são filhos dos outros e fico tão mais descansada). Mas dou por mim a ter receio de estar, outra vez, a dizer asneiras e calo-me.

Há dias em que não é fácil ser eu.

Westworld e a atualidade

07.12.16, P.

Comecei a ver o westworld, uma das séries da moda que está a deixar todos assim meio histéricos, e tenho que confessar que não estou a amar de paixão. É verdade que ainda só vi 2 episódios mas ainda assim acho que me vou cansar rapidamente.

Provavelmente a moral da série vai passar pela humanização dos robots, pela evolução, pela regressão e perdição da humanidade por todas as questões que isso vai levantar. Mas para já eu fiquei presa na constatação de um facto assustador: aquele parque teria, na realidade, todo o sucesso do mundo. E para mim isso é assustador.

A vontade que o ser humano tem de matar, o prazer que tem por violar, destruir, magoar, maltratar é algo que me assusta. Querer fazê-lo "a brincar" é indiferente. Ajuda um bocadinho ter discernimento para saber que é errado mas a intenção está lá.

É como o "vergonha não é roubar, é ser apanhado".

E por falar em "vergonha não é roubar, é ser apanhado" não consigo deixar de associar isto às vergonhosas notícias do futebol leaks que têm surgido nestes dias. Cambada de ladrões. Nunca conseguirei perceber porque é que gente com tanto dinheiro precisa fugir aos impostos. Uma pessoa esmifra-se a trabalhar e (depois de reclamar) paga todos os impostos, esforça-se por ter a situação fiscal em dia e estes cabrões que têm dinheiro para viver 1000 vidas de luxo, acham-se acima do comum mortal e não têm vergonha na cara.

O pior é que o sentimento geral é que isto é só um azar, "coitados foram apanhados" ou "Mas os outros tb o fazem" ou "eles são futebolistas não contabilistas" e eles continuam a ser os ídolos dos miúdos e dos graúdos, continuam a ser aplaudidos, vão continuar a ser o modelo de pessoa. Quando a verdade é que são os piores de todos: fazem-no por ganância e não por necessidade. Mas a ganância não é pecado...

...

06.12.16, P.

Ia começar este post a dizer que há muito não escrevo nada aqui mas afinal o último post data da semana passada e isso não é, na definição deste blog, muito tempo.

Mas a verdade é que há muito tempo não escrevo nada aqui. Na verdade nem sei quando foi a última vez que escrevi alguma coisa, nem sei se alguma vez o fiz. Este blog está cheio de nada, como a maioria dos blog que escrevi (daí terem geralmente tempos de vida relativamente curtos). Nada em forma de desabafo. Nada em forma de episódios. Nada em forma de opiniões. Há quem consiga transformar os seus nada em algo, em tudo. Há quem, tentando-o ou não, se transforme nas palavras que escreve, há quem seja talento. Há outros que não.

Mas e ainda sabendo que faço parte deste segundo grupo (e poupem-me por favor ao contraditório, conheço-me e às minhas capacidades bastante bem, não ando - e muito menos aqui - à procura de elogios nem sofro de nenhuma falsa humildade - como dizem lá na aldeia "cada um é para o que nasce" e vivo bem com isso) sei bem que não é por isso que este espaço está sempre cheio de vazio. Nem sequer esse vazio é o meu espelho. Mas este meu feitio da treta que me faz ser maníaca da privacidade, que me faz pensar mil vezes antes de partilhar algo mais pessoal, que me impede de falar do que sei só porque a minha profissão é tão, mas tão específica que basta o meu nome para ser identificada, é que enche este blog de nada.