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Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Estrelinhas e outros epitáfios

30.06.16, P.

Coisa que me irrita profundamente: "agora há mais uma estrelinha no céu"; "ele/a tem uma estrelinha do céu a guiá-lo"...

Arre, que não há pachorra. E vá é quase tão estúpido quanto um epitáfio que uma vez li e que dizia "querido paizinho, o diabo te levou..." entre outras pérolas (true story, num cemitério perto de nós em que é extremamente difícil não ter um atque de riso).

(e antes que pensem que nunca "me" morreu ninguém e que por isso sou insensível, esqueçam, será difícil - e ainda bem - terem o meu historial)

Pessimismo

29.06.16, P.

Aguentei estoicamente a grande crise (e as pequenas também) mantendo um certo optimismo baseado na minha fé na humanidade. Em tempos de crise os Portugueses têm 2 coisas maravilhosas: são generosos e desenrascam-se. E acreditava que, no fundo, somos boas pessoas. 

Os últimos tempos, com especial atenção para as últimas semanas, destruíram essa minha fé. 

São as pequenas coisas que minam o meu optimismo.

O veneno das redes sociais quando, sob a coragem do anonimato ou das personagens virtuais, destilamos uns sobre os outros. A vontade de destruir, espezinhar os mais fracos. Quando temos a possibilidade de nos reinventarmos escolhemos transformar-nos em alguém que tem prazer em diminuir os outros, em humilhar. 

As lutas politicas que nos embruteceram e estupidificaram. A total falta de humildade. A certeza de que sabemos tudo e que dominamos todos os assuntos e que quem não concorda connosco é burro ou está errado.

A desumanização do ser humano que nos faz olhar para um refugiado ou um muçulmano e não ver uma pessoa. 

O racismo, a xenofobia, a homofobia que existe transversalmente na sociedade.

A ignorância relativamente a tanta coisa mas especificamente em relação ao quão privilegiados somos.

A falta de sábios. As pessoas que admiramos hoje em dia têm pouco de sábios. Esses não vencem, não são reconhecidos, não são lembrados.

Ouvir alguém dizer: "não sabia que o meu voto conta".

Uso a primeira pessoa do plural neste texto porque sei que também eu me incluo aqui. Engana-se quem acha que não se insere em nenhum destes pontos. A diferença é na intenção. Tento (e dou por mim muitas vezes a) pôr-me no lugar dos outros. E percebo que às vezes magoo sem ter intenção. E aprendo. E (tento) não voltar a repetir.

 

Eles sabem tão bem quando podem esticar a corda...

26.06.16, P.

O meu gato é um santo. Dorme toda a noite (encostado a mim ou ao meu marido), é super silencioso à noite e nunca nos acorda de manhã (e não interessa a que hora acordemos). Quem tem gatos sabe o quão estranho e fantástico isto é.

Ora, eu fui uma semana para fora em trabalho e eles ficaram os dois sozinhos. 

No primeiro dia fora o meu marido dizia-me "o teu gato sentiu a tua falta, dormiu na sala e às 04 da manhã andava a miar pela casa". No segundo dia "O cabrão do teu gato voltou a não me deixar dormir, veio morder-me as mãos...". No terceiro "o teu gato fez um tal cagaçal que tive que o deixar ir para dentro do armário ou não dormia outra vez"... foi assim toda a semana e comecei a ficar preocupada, ter um gato a dormir dentro de um armário é um dos limites que não admito cruzar. 

Mas desde que cheguei não houve miados à noite, pedidos para ir para dentro do armário ou qualquer outra coisa... dorme que nem um anjo coladinho a mim. Coisa mais linda da dona.

DSC04352.JPG

 

Ups, era só a brincar

26.06.16, P.

Uma semana fora, em trabalho, e a sensação de que o mundo mudou.

Ainda estamos naquela fase em que respiramos e ficamos surpreendidos porque tudo está na mesma. Nos cabeçalhos dos jornais ainda se grita golo e o futebol dá-nos esta maravilhosa sensação de normalidade. Enquanto estivermos preocupados com a selecção e com os jogos de futebol do Euro 2016 então não nos preocupamos com o que por aí vem. Eu não faço ideia do que é, mas bom não será certamente.

Pensava eu que só aqui, neste país à beira mar plantado, se desvalorizava o valor do voto e se acreditava que a "coragem de café" não tinha consequências e que no dia seguinte poder-se-ia dizer "eu estava só a ver se estavam atentos, era a brincar". O bluff só funciona se estamos de facto preparados para agir.

E agora estamos todos com vontade de brincar à roleta russa sem saber muito bem o que isso significa. É que se soubessemos e estivessemos preparados para aceitar as consequências seria uma opção tão válida como a permanência.

Não aprendemos nada com a Grécia e tenho para mim que não aprenderemos nada com o Reini Unido. Vamos continuar a ser treinadores de bancada, com todas as certezas do mundo. O problema é sempre o dia seguinte...

Das respostas que não posso dar...

16.06.16, P.

Querida, se o filho da puta não te tivesse mandado para o hospital umas quantas vezes no passado até, eventualmente, te poderia dar razão. Assim, limito-me a achar que, mais uma vez, perdeste uma grande oportunidade. Até quando vais rejeitar todos os bons conselhos, toda a ajuda e vais acordar para a vida?

Orlando (ou o poder das palavras)

15.06.16, P.

Um homem, nos EUA matou 49 pessoas e feriu mais de 50 no domingo na discoteca Pulse. Ao contrário do que se passou aquando do ataque no Bataclan, estas vítimas foram poucos humanizadas, foram mais números que palavras. Pelo menos por cá, por esta Europa que vive intensamente o Europeu de futebol. É verdade que não tenho tido muito tempo para ver televisão mas sempre que a ligo está a dar futebol, estão a analisar futebol, a fazer previsões sobre futebol, a viver futebol.

49 pessoas morreram, mais de 50 ficaram feridas.

Não sei quantas dessas pessoas eram homossexuais mas o ataque deu-se numa discoteca gay e isso dividiu opiniões. O “puseram-se a jeito” do costume assume aqui contornos de homofobia (será que surpreende alguém que quem é capaz de dizer que jornalistas ou humoristas se “puseram a jeito” seja homofóbico?). Não consigo deixar de me questionar se, por cá, se teria falado mais do assunto se o ataque tivesse sido noutro sítio qualquer onde a orientação sexual das vítimas não fosse uma questão.

Porque a verdade é que o é. É-o para os homofóbicos, é-o para a comunidade LGBT e para os seus apoiantes, é-o para todos os que evitam dizer que o ataque foi numa discoteca gay ou dos que referem especificamente que “não interessa a orientação sexual de cada um, foram 49 pessoas que morreram…”.

E tenho visto críticas por todos os lados. E raios, isto, isto assusta-me mais do que qualquer outra coisa. A inércia. A passividade. A desunião.

Porque uns falam de homofobia, outros não. E esta divisão, nós e eles, nós e eles. Qualquer que seja a perspetiva em que olhemos esta questão, há sempre o “nós e eles” e por uma vez, o “nós” e “eles” não são os dois lados das armas, são os que não usam as mesmas palavras. O nosso lado partiu-se, dividiu-se. E isso é um erro crasso. Sair-nos-á caro.

49 pessoas morreram, mais de 50 ficaram feridas. Porque uma besta resolveu pegar numa arma e atirar indiscriminadamente sobre um grupo de pessoas que se estava a divertir.

PDI (ou vencida por um anti-histamínico)

09.06.16, P.

Já não tenho idade para estas semanas cheias de acontecimentos e coisas giras para fazer, com dias super compridos e poucas horas de sono. Ontem, quando cheguei a casa, vinda da feira do livro, do regresso da Comunidade LeYa e com uma alergia de morrer, cedi e tomei um anti-histamínico. Ora, eu já sei a pedra que aquilo me dá. Aliar isso ao cansaço acumulado nesta semana do demo (mas boa, boa) em que estou no turno da manhã e as noites têm tido quase sempre programas giros, fez que adormecesse com uma rapidez surpreendente até para mim. 

O problema é que quando o despertador tocou esta manhã ainda estava sob o efeito do comprimido rosa. E hoje há mais um programa ninja. E amanhã, ao contrário de vocês, seres sortudos, eu trabalho.

Como raio vou sobreviver ao resto da semana?

Pior que não saber perder...

05.06.16, P.

É não saber ganhar!

Quando é que mais do que ter razão (ou pelo menos acreditar que se tem) o importante é conseguir humilhar os outros, sentir-se superior?

Quando é que ganhar com alguma gentileza passou a ser um defeito e não uma obrigação?

A infelicidade que deve ser estar sempre à procura de formas de rebaixar os outros deve ser cansativa.

Isto é algo em que ando a reparar há algum tempo. Começa a incomodar-me tanto as manifestações de vitória como o fazer-se de vítima. 

 

 

E hoje quando vinha escrever exactamente isso aqui blog, dei uma gargalhada ao ver um comentário que me tinham deixado no blog dos livros.

Escrevi um post onde, entre outras coisas, falava numa conversa com a minha mãe e no meu orçamento para a feira do livro de 20€ - orçamento que tento cumprir uma vez que compro imensos livros durante o ano e que estou a meia dúzia de livros de perder o controle dos livros por ler...

Ora um anónimo (ai a coragem que por aí há...) deixou-me este comentário:

"Aos 37 anos vives com atua mãe e só tens 20 euros para gastar na feira? Porra, repensa a tua vida. Que miséria"

O que levará alguém a, num blog, escrever isto? Nitidamente não é um leitor habitual do blog e é de alguém com as prioridades completamente trocadas. E se só tivesse 20 euros para gastar numa feira do livro? Será que precisava de ouvir que isso é "uma miséria?". A quantidade de pessoas que neste país vive com o ordenado mínimo (que convenhamos é uma miséria) terá 20 euros para gastar na feira do livro? E será isso um motivo de vergonha?

Será que a tentativa de me deitar abaixo o/a fez sentir-se melhor?

enfim...

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