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Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Rabiscos Soltos

#FIquemEmCasa Em tempos de isolamento social um blog pode ser uma janela para mundo. Fiquem em casa. Leiam. Escrevam. Ajudem. Sejam melhores. Sejam maiores. Mas fiquem em casa.

Digam-me, pf, que estou errada

30.03.16, P.

É impressão minha ou já não é possível discordar sem que do outro lado venham ou insultos ou uma enorme birra? 

Desde quando discordar é sinónimo de ofender? Desde quando é aceitável ofender quando de discorda?

Isto dos blogs já não tem a mínima piada porque não é possível ter uma conversa, uma troca de opiniões porque, aparentemente só se pode ter uma opinião. Há-de haver sempre alguém que, ou faz birra porque não concordam consigo ou insulta porque não concorda. 

Não há pachorra.

 

UTC+1

28.03.16, P.

Adoro as mudanças da hora. E, por razões profissionais, nunca me esqueço que o último dia com a hora antiga é "o sábado antes do último domingo dos meses de Março e Outubro". Na prática, a hora muda no último fim de semana completo dos meses de Março e Outubro.

Gosto de ter dias intermináveis, sair do trabalho sem a sensação de que o dia acabou. Gosto de ver o pôr do sol, de jantar tarde, de sentir que finalmente estamos a caminho do Verão.

Gosto acima de tudo de viver num país que tem 4 estações. Gosto de todas elas (quase de igual forma). Confesso que tenho um fraquinho pelo Inverno. Por isso costumo dizer que só há uma coisa melhor que a mudança para a hora de Verão: é a mudança para a hora de Inverno.

Mas agora, chegar ao Verão é maravilhoso. Começar a vestir roupas mais leves, sair para a rua e sentir o calor do sol.

Neste momento, adoro.

 

O dia depois de ontem

23.03.16, P.

Fico preocupada quando actos como os de ontem deixam de criar espanto. "Habituamo-nos a tudo" foi algo que sempre ouvi mas a verdade é que fico espantada com a facilidade com que nos habituamos a isto.

Depois dos ataques em Londres, Madrid e Paris falou-se disto "over and over again". Mas desta vez não. Ou não tanto, para dizer a verdade.

"Foi chato, é triste mas..."

Eu sei que a minha profissão me aproxima dos outros países, de toda a Europa, conheço gente um pouco por todo o lado. Conheço gente que podia ter sido uma das vítimas, preocupei-me com pessoas específicas. Pessoas que podiam ser eu. Vi este ataque como mais um ataque a "nós".

Mas vi reações de "eles". Demasiadas reações a "eles". Tenho medo que daqui a pouco este tipo de coisa seja apenas uma nota de rodapé (como é quando acontece no Iraque, na Turquia, na Nigéria, ou em tantos outros países). Tenho medo que o "dia seguinte" seja normal.

Se calhar estou errada. Significa que o medo não nos deixou venceu? se sim, então será uma vitória. Mas temo que seja indiferença. E que não nos apercebamos das consequências que o dia de ontem (e todos os dias como os de ontem) vão ter nas nossas vidas até que seja tarde demais. Talvez esta indiferença seja apenas uma delas.

quando uma coisa explica tão bem outra

18.03.16, P.

Há uns anos descobri que tenho miopia o olho esquerdo e hipermetropia no direito. Ou seja, dum vejo mal ao perto, doutro mal ao longe. Basta-me fechar um olho para perceber como o mundo é diferente, dependendo da perspectiva. Ainda assim fico sempre surpreendida com a diferença. Só que já aprendi que para ver a ver a realidade me basta manter os olhos abertos.

Só para que saibam: ainda assim eu gosto de chuva

17.03.16, P.

Ele - Vais pôr roupa a lavar?!

Eu - não... já está lavada, vou estender lá fora.

....

....

Ele - Sabes que amanhã vai chover, não sabes?

...

Eu: Não vai nada!

Ele: não?

Eu: Vai?

 

(Eu sei, eu gosto de chuva e vou adorar acordar e sair de casa com uns chuviscos... podia era ter ido ANTES ao site do IPMA, não é?)

Talvez se viva bem assim

17.03.16, P.

Mas a mim incomoda-me o "venha a mim". Há pessoas que acham que o ideial é terem tudo de borla, mesmo que não precisem. Incomoda-me que se ande sempre a chorar com falta de dinheiro (principalmente quando é altura de ser generoso) mas que tenha sempre a última moda.

Prioridades, dizem vocês. Prioridades, digo eu também (nunca serei rica, mas serei sempre mais feliz assim).

E chateia-me quando reparo nisso em alguém que está perto (sabem aquela pessoa que grita sempre "presente" quando é para receber e "Ah, Não ouvi" quando é para oferecer?). Depois de ver pela primeira vez não há forma de deixar de reparar. E sei lá, entristece-me. 

Antes uma saladinha bem lavada, que uma sandes mal amanhada

16.03.16, P.

Chegar ao sítio da moda, de que toda a gente fala, onde se come um petisco dos bons e ainda se tem direito a um atendimento à maneira, daqueles em que acabamos a pensar que somos amigos do dono desde pequeninos?

Pois é, fui lá. Chamem-me menina mas só me apraz dizer: ca nojo. E não são nada simpáticos. E aquilo nem sequer é assim tão bom. Mas mesmo que fosse, só de os ver fazer as sandes com as mãos, espetar o queijo e a carne lá dentro e, literalmente, espremer para escorrer o molho, deixava de ser. 

Não me tinha por minhoquenta mas... não, aquilo para mim é demais. ca nojo. 

Comi? Sim, comi, tendo a perfeita noção que se não morresse (convenhamos que a probabilidade era mínima) ficaria imune a uma série de doenças (e na pior das hipóteses emagreceria uns quilos) que uma vez não são vezes e malta já lá estava. Além disso, se não comesse ficaria sempre com a ideia que a maravilha da coisa superava o nojo. E não, não supera. 

É da moda? Sim

Toda a gente adora? Pelos visto toda a gente menos eu

Volto lá? Nem que me paguem. 

Mulher

09.03.16, P.

Passei anos a ser a "maluca" por achar que o dia internacional da mulher não era para comemorar.

Ainda na adolescência e do alto das minhas certezas e privilégios, já tinha a sensação que não fazia sentido, sentia-me até um bocadinho ultrajada por existir tal dia e com a certeza de que algo estava errado. Achava, na altura, que era por não haver um Dia Internacional do Homem e as loucuras e celebrações que estavam na moda davam-me alguma (muita, vá) vergonha alheia.

Fui crescendo e comecei a aperceber-me que tinha e não tinha razão. Tinha, é ultrajante que haja um dia Internacional da Mulher. Não tinha, esse dia é, ainda e infelizmente, extremamente necessário.

Fui durante muito tempo, voz única entre os meus. Fico feliz (ou não, dependendo do ponto de vista)  pela minha voz se perder entre tantas vozes que hoje já gritam bem alto que este dia é um dia importante e triste. Extremamente triste. E com uma pontinha de alegria e orgulho por tudo o que já conquistámos.

Comecei a aperceber-me da importância do dia internacional da mulher enquanto lia. E comecei a olhar à volta. Comecei a conhecer pessoas, amigas até, que sofriam e sofrem de violência doméstica. Percebi que há meninas violadas porque sim. Que há meninas mutiladas porque sim. Que a mutilaçao genital feminina é uma realidade (e que este nome sonante mostra uma realidade que está para além das palavras). Mais tarde, bem mais tarde, percebi que mesmo na nossa sociedade ainda há muito caminho a percorrer.

Há umas semanas correu pelo facebook um vídeo  de um anúncio que foi saudado por inúmeros mulheres e que fazia a apologia do homem ajudar nas tarefas da casa. Partilhei-o com a frase "o problema é a palavra AJUDA". Quase não tive reações (bem hajam a alguns homens que perceberam exactamente onde queria chegar). Mas (mais) uma foto do meu gato não passa despercebida. 

E neste dia internacional da mulher fiquei sem saber o que fazer. Não me apetece pregar aos peixes, nem aos parvos. Ando descrente nas gentes e nas mulheres e nos homens. E assim, quando ontem, me ofereceram uma flor, engoli em seco, agradeci e deixei-a em cima da mesa toda a noite. Vai durar pouco mas vou-me lembrar que foi uma mulher quem ma ofereceu. E também me vou lembrar que o meu marido, amor da minha vida, me conhece tão bem que quase entrou em pânico quando viu que  me tinham oferecido a dita rosa. Ele, só ele, me restaurou a fé que um dia, homens e mulheres vão ser iguais em direitos e deveres. Porque hoje não são.

 

Ilusão vs Realidade

01.03.16, P.

Começar a trabalhar às 08h e às 16h desligar o computador. Ler um bocadinho à hora do almoço e depois das 16h ter a casa toda para mim e para as minhas leituras (gato incluído, marido excluído - jantar com amigos). O jantar seriam umas torradas (adoro) e nem sequer ia ligar a televisão. Ando a ler As mulheres de Cinza de Mia Couto e o Jonathan Strange e Mr Norrel, duas leituras bastante diferentes e que me estão a agradar imenso. O dia perfeito*. (Trabalhar de casa iria permitir-me cumprir o horário).

 

A realidade: trabalhei até às 16h30, não li nada à hora de almoço, o meu sobrinho pediu-me para lhe dar explicações de matemática (coisa que estou a fazer enquanto escrevo este post - ele está a derivar funções), aproveitei entre o final do trabalho e o início da explicação para arrumar roupa (a pilha estava a incomodar-me um bocadinho) e depois tenho que ir fazer o jantar (o jantar do meu gajo foi cancelado e achei por bem desistir das torradas).

 

E depois riem-se quando digo "a minha vida é uma miséria"**

 

* dizer que um dia é perfeito logo depois de dizer que o meu gajo vai jantar fora pode dar a entender que não gosto de viver com ele... não é nada disso mas há alguém que não gosta de passar umas horas em casa sem nada para fazer e completamente sózinha? Eu já aprendi a dar valor à solidão. Se for só alguns dias não é solidão, é privilégio.

 

**Eu sei que a minha vida não é uma miséria. Acreditem, a minha vida já foi uma miséria. Neste momento (e digo isto baixinho para não agoirar) é maravilhosa, mas gosto de me queixar. Deslarguem-me, sim?...